25/02/2008

Trocando uma maçaneta

É sempre bom lembrar... (Recebi por email do meu amigo Ingmar, que SEMPRE me manda emails interessantes.)


A Reforma Ortográfica - uma bagunça organizada!

A partir de 2008 deverá entrar em vigor a reforma ortográfica que torna a língua portuguesa um idioma único em todo o mundo.

Reforma = Bagunça
Mas, nesse caso, a Língua Portuguesa não vai quebrar paredes ou trocar pisos e deixar você sem chão. As mudanças na língua equivalem a uma troca de maçaneta. Elas afetam menos de 2% do português falado no Brasil. Portanto, não é difícil conhecê-las para estarmos preparados quando a reforma for oficialmente aplicada.

removendo os parafusos...
a TREMA deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados.
conseqüência → consequência
Müller


o HÍFEN* não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começar com s ou r, ao invés do hífen essas letras serão duplicadas.
anti-semita → antissemita
contra-regra → contrarregra

Exceção: só não muda quando os primeiros elementos terminam com r.
hiper-requintado
inter-resistente
super-revista


2. quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.
extra-escolar → extraescolar
auto-estrada → autoestrada


o ACENTO CIRCUNFLEXO não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados.
Crêem → creem
vêem → veem
dêem → deem
lêem → leem


2. em palavras terminadas em hiato "oo".
enjôo → enjoo
vôo → voo


o ACENTO AGUDO não se usará mais:
1. em palavras terminadas em "eia" e "oia".
assembléia → assembleia
idéia → ideia
jibóia → jiboia
heróica → heroica


2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo.
feiúra → feiura
viúva → viuva


3. nos poucos verbos em que há "u" tônico depois de "g" ou "q"e antes de "e" ou "i".
averigúe (averiguar) → averigue
argúem (arg(ü/u)ir) → arguem
apazigúe (apaziguar) → apazigue


parafusos novos...
o ALFABETO passará a ter 26 letras.
a b c d f g h i j K l m n o p q r s t u v W x Y z

Para que a Reforma Ortográfica não lhe pegue desprevenido, mantenha essa ferramenta de consulta sempre à mão.
E, para poder ter sucesso sempre que puser mãos à obra com a Língua Portuguesa não deixe de visitar o site da Scritta, no qual você encontra um rico conteúdo sempre atualizado sobre o assunto.

24/02/2008

Fidel = Líder Invicto

PORQUE FIDEL CASTRO DEIXA O PODER COMO UM LÍDER INVICTO

Depois do que Hélio Fernandes escreveu ontem em sua coluna, cuja maior marca é a independência, não precisaria escrever a respeito do fato internacional mais importante deste verão de 2008. Mas como vi por dentro a revolução cubana praticamente desde o seu nascedouro, ouso chamar todos os meus leitores, inclusive os que odeiam Fidel Castro, a uma reflexão honesta a respeito deste líder que foi a grande referência do Terceiro Mundo neste meio século em que esteve à frente do governo cubano.
Com uma coragem que faz falta aos homens públicos em todo o mundo, Fidel Castro exerceu tal papel na história que sua despedida do poder, aos 81 anos, realmente por razões de saúde, mereceu um caderno especial em O GLOBO e as primeiras páginas nos diários de todos os países, sem falar nos destaques dos tele-jornais.
Raciocinemos juntos, numa boa: por que desse noticiário tão inflado e rico em informações para registrar a formalização de uma situação que já se arrastava por 19 meses? Afinal, Cuba é apenas uma ilha de 11 milhões de habitantes, BLOQUEADA por todos os lados pela maior potência mundial, cujos governos e grupos econômicos recorreram a todas as armas para desconstruir sua revolução.
Vê se eu me fiz entender: você já parou para pensar, independente de suas simpatias e antipatias políticas, sobre esse feito sem precedentes desde que os Estados Unidos da América converteram-se no temido arsenal militar e no maior poderio econômico do mundo?

Até a URSS caiu

Compare comigo: se até a outrora poderosa União Soviética desmoronou ainda na condição de segunda potência mundial, se até a gigantesca China Continental assimilou a economia de mercado para sobreviver e crescer, qual o segredo de Fidel Castro, o romântico de Sierra Maestra, alvo de pelo menos 600 tentativas de homicídio concebidas e patrocinadas pelos órgãos de segurança dos EUA?
O que explica a sobrevivência desse regime revolucionário, senão o amplo apoio popular e o êxito de suas políticas públicas, apesar do castigo quase letal de um embargo econômico impiedoso, em que o governo da grande potência não se limita a suas próprias medidas, mas exige que todos os demais países do mundo mantenham os cubanos a pão e água?
Eu bem sei, porque, como disse nas primeiras linhas, fui lá mais de uma vez, em diferentes momentos de seu processo revolucionário: em julho de 1960, quando ainda tinha 17 anos, estava em Havana participando do I Congresso Latino-Americano de Juventudes, representando a União Brasileira de Estudantes Secundaristas.
No ano seguinte, já como jornalista de carteira assinada na ÚLTIMA HORA, fui trabalhar lá até julho de 1962, e testemunhei momentos de grande mudança. Voltei a Cuba, como turista, em 1986. Finalmente, integrei uma delegação parlamentar brasileira que visitou Havana em julho de 2003.
Poucos brasileiros tiveram tantas oportunidades de conhecer e avaliar, em fases tão distintas, a revolução cubana e a liderança de Fidel Castro, que venceu as mais olímpicas das provas em situações em que ninguém, a não ser os teimosos cubanos, imaginavam que ele e seu regime socialista tivesse condição de superar, como no chamado "período especial", conseqüência do desmantelamento da União Soviética e dos países do Leste europeu, cujo marco foi a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989.

Nenhuma criança na rua
Quando você olhar para aquela ilha rebelde, a 110 Km da costa da Flórida, antes de buscar motivos para criminalizá-la na mais bem industriada orquestração regida pela potência que não se conforma em ter perdido a guerra contra Fidel, reflita sobre esta frase que ele pronunciou, durante a visita do Papa João Paulo II a Cuba, naquele janeiro de 1998: "ESTA NOITE MILHÕES DE CRIANÇAS DORMIRÃO NA RUA, MAS NENHUMA DELAS É CUBANA".
No dias de hoje, em que o regime democrático representativo não encara com seriedade os problemas mínimos do povo de onde, segundo a Carta, emana o poder, dedicando-se a programas compensatórios de mendicância oficial, onde a Justiça pode ser sede de um massacre como no caso da VARIG, entregue a preço de banana a aventureiros internacionais, você faria muito bem a seus filhos e às futuras gerações se procurasse entender, como eu entendi, a natureza do "milagre cubano", onde já não há analfabetos, todos têm acesso ao melhor ensino público do mundo (segundo a UNESCO) e o nível de escolaridade média da população é de 12 anos, enquanto os índices de saúde são comparáveis aos dos países do primeiro mundo.
Será que você não acha isso relevante? Fidel Castro não ficou por acaso esse tempo todo no poder, asfixiado perversamente pela potência que faz e desfaz governos, que ainda dita as regras do jogo, que acaba de patrocinar mais uma amputação na fatiada Iugoslávia, que tem um orçamento militar de meio trilhão de dólares, mais do dobro de todo o orçamento brasileiro, que tem bases em todos os continentes, o maior arsenal bélico instalado, que promove invasões como a do Iraque hoje ou da pequena Granada ontem, e que banca as tropas brasileiras no Haiti.
Num país em que um em cada 15 habitantes fez uma boa faculdade, em que a UNESCO constata os melhores desempenhos escolares do mundo no primeiro grau, é natural que a população releve o sacrifício imposto pelo boicote e considere emergencialmente inevitável, num estado de guerra permanente, a sobrevivência de um Estado politicamente forte, embora nas eleições para suas casas legislativas (onde os representantes não recebem um centavo pelos mandatos, já que se mantêm em suas atividades laborais), os candidatos saiam de entidades da sociedade e não são obrigatoriamente filiados ao seu partido único.
Como você vê, há muito o que falar sobre Fidel Castro, sem medo e sem rancores, e é possível que eu volte ao assunto, disposto a trocar idéias com você em cima de fatos concretos, que falam mais alto do que qualquer propaganda direcionada.

Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2008

Escrito por Pedro Porfirio

22/02/2008

Atritos

Um belo texto para refletir muito em uma ensolarada sexta-feira!

Atritos
(Roberto Crema)

Ninguém muda ninguém. Ninguém muda sozinho. Nós mudamos nos encontros. É nos relacionamentos que nos transformamos. Somos transformados a partir dos encontros, desde que estejamos abertos e livres para sermos impactados pela idéia e sentimento do outro.

Você já viu a diferença que há entre as pedras que estão na nascente de um rio e as pedras que estão em sua foz? As pedras na nascente são toscas, pontiagudas, cheias de arestas. À medida em que elas vão sendo carregadas pelo rio, sofrendo a ação da água e se atritando com as outras pedras, ao longo de muitos anos, vão sendo polidas, desbastadas.

Assim também agem nossos contatos humanos. Sem eles, a vida seria monótona, árida. A observação mais importante é constatar que não existem sentimentos, bons ou ruins,
sem a existência do outro, sem o seu contato.

Passar pela vida sem se permitir um relacionamento próximo com o outro, é não crescer, não evoluir, não se transformar. É começar e terminar a existência com uma forma tosca, pontiaguda, amorfa.

Quando olho para trás, vejo que hoje carrego em meu ser várias marcas de pessoas extremamente importantes. Pessoas que, em contato comigo, me permitiram dar forma ao que sou, eliminando arestas, transformando-me em alguém melhor, mais suave, mais harmônico, mais integrado.

Outras pessoas, sem dúvidas, com suas ações e palavras, me criaram novas arestas, que precisaram ser desbastadas. Reveses momentâneos servem para o crescimento. A isso chamamos experiência.

Penso que existe algo mais profundo, ainda nessa análise. Começamos a jornada da vida
como grandes pedras, cheia de excessos. Os seres de grande valor percebem que ao final da vida foram perdendo todos os excessos que formavam suas arestas aproximando-se cada vez mais de sua essência, e ficando cada vez menores, menores, menores...

Quando finalmente aceitamos que somos pequenos, ínfimos, dada a compreensão da existência e importância do outro, e principalmente da grandeza de Deus, é que finalmente nos tornamos grandes em valor.

Já viu o tamanho do diamante polido, lapidado? Sabemos o quanto se tira de excesso para chegar ao seu âmago. É lá que está o verdadeiro valor...

Pois, Deus fez a cada um de nós com um âmago bem forte e muito parecido com o diamante bruto, constituído de muitos elementos, mas essencialmente de amor.

Deus deu a cada um de nós essa capacidade, a de amar... Mas temos que aprender como.
Para chegarmos a esse âmago, temos que nos permitir, através dos relacionamentos, ir desbastando todos os excessos que nos impedem de usá-lo, de fazê-lo brilhar...

Por muito tempo em minha vida acreditei que amar significava evitar sentimentos ruins. Não entendia que ferir e ser ferido, ter e provocar raiva, ignorar e ser ignorado, tudo isso faz parte da construção do aprendizado do amor. Não compreendia que se aprende a amar sentindo todos esses sentimentos contraditórios e... superando-os. Esses sentimentos simplesmente não ocorrem se não houver envolvimento... E envolvimento gera atrito.

Minha palavra final: ATRITE-SE!

Não existe outra forma de descobrir o amor.

E sem ele a vida não tem significado.

Cuba


Haja o que houver, com Fidel ou sem Fidel

Desde que desceu a Sierra Maestra, expulsou o sargento-ladrão-Batista (que já era então "marechalíssimo"), Fidel Castro não parou mais de ser notícia, de surpreender o mundo. E anteontem, mais uma vez Fidel Castro surpreendeu o mundo (que não sabia de nada), foi a notícia principal de todos os jornais ou órgãos de Comunicação.
O petróleo a 100 dólares o barril, a disputa entre um negro e uma mulher pela Casa Branca, a vitória previsível do partido da assassinada Benazir Bhutto no Paquistão, a CPI dos cartões, esses fatos ficaram de lado, todos se concentravam na palavra Fidel Castro, na sua foto e na sua renúncia.
Entre tanta surpresa, nada surpreendente que alguns apontem erros, equívocos e desacertos de Fidel. Quase completando 50 anos de Poder, seria absurdo pensar que ele fez tudo certo, sem qualquer desvio. Mas seus acertos são milhares de vezes maiores do que esses pretensos e até verdadeiros equívocos.
Fidel Castro não foi ditador e sim um libertador. É o maior líder do seu tempo, se manteve isolado e independente. Mesmo os que o combatem reconhecem que Cuba não é mais a mesma. Exclusivamente pela força, a convicção e a certeza do que pretendia, Cuba deixou de ser a praia de fim de semana de americanos ricos, a jogatina diária desses mesmos estrangeiros que só queriam se divertir. Hoje é respeitada, aclamada, invejada.
Mas é preciso cuidado na análise. Ainda não se sabe bem o que aconteceu e o que acontecerá. Por que a renúncia anunciada agora? Fidel já está fora do Poder há mais de 1 ano, continuou o "comandante" que diz que não será mais. E Raul seu irmão permanente e comandante interino? A lealdade de Raul a Fidel é impressionante. Não criou o menor problema para Fidel, ficou deliberadamente em segundo plano, foi sempre o comandante do Exército. Quem teria comportamento igual, num mundo dominado pela ambição?
Fidel não foi unicamente revolucionário, foi também um grande administrador e inovador. Resistiu aos massacres dos EUA, à falência da União Soviética, aos embargos e discriminações dos americanos. A cada crise reaparecia mais forte. No seu enterro (que terá que haver algum dia), estarão presentes 11 milhões de cubanos, toda a sua população. Apesar de algumas ou até muitas restrições, Fidel é o grande e reconhecido herói de Cuba e de sua libertação.
Não haverá modificação a curto prazo. E a transformação será inicialmente econômica e só depois política. E qualquer que seja a ordem da mudança, não atingirá de modo algum a imagem de Fidel. Dizem que Fidel foi e é ditador. E Batista que governou a primeira vez como sargento, a segunda como "marechalíssimo"? E roubou bilhões do povo de Cuba. Com ele o povo tinha liberdade?
E é preciso levar em consideração a geração que nasceu depois de Fidel, e que de uma certa forma está no Poder. São jovens na casa dos 40 anos, que estudaram em universidades, foram formados para dirigir e comandar um país próspero, importante e livre. Cuba tem mais de 30 estatais, esses jovens são presidentes ou diretores, mais ou menos 200 pessoas. Serão ouvidos em qualquer eventualidade.
Portanto, quem fizer análises (geralmente fazem "previsões" ou "adivinhações") baseadas em fatores unicamente externos, não levando em consideração os internos, errará sem nenhuma dúvida. Cuba volta ao centro do mundo, não sei quanto tempo levará, mas agora será uma ilha potência e não, como antigamente, uma ilha subjugada e submissa.
Gostaria que a primeira providência fosse a destruição de Guantanamo. Construída em 1898 pelos americanos que ajudavam Cuba contra a invasão da Espanha, ficou para sempre como símbolo do Poder dos EUA. E a partir do 11/9 serviu para os EUA massacrarem, matarem e torturarem pessoas, tudo que condenavam em Fidel.
PS - Por enquanto apenas a surpresa e a certeza de que Cuba viverá seu próprio destino. As conseqüências da decisão de Fidel irão se desdobrando com maior ou menor velocidade.

Escrito por Helio Fernandes, em 21/02/08


Na foto: Fidel, Raúl e Che

18/02/2008

América Latina

Gente, não repara não... É que tô precisando estudar pro dia 09/03 e a única maneira de não perder esse texto - sem precisar imprimi-lo para não agredir la madre naturaleza - é guardá-lo aqui.

Mas quem quiser, fique à vontade pra ler também. É um texto muito bom. Eu recomendo.

Boa semana a todos.



América do Sul: do destino à construção
Marco Aurélio Garcia

Marcada há décadas por desequilíbrios econômicos, desigualdades sociais e autoritarismo político, a América do Sul vem passando desde fins dos anos 90 por transformações políticas, econômicas e sociais profundas e aceleradas.

O crescimento da economia reverte a prolongada tendência recessiva de um passado recente. Vem acompanhado de um equilíbrio macroeconômico sem precedentes: inflação baixa, boa situação fiscal, contas externas superavitárias, consideráveis reservas cambiais.

Apesar da persistência de graves problemas sociais – pesada herança do passado –, o surto atual de crescimento na região tem permitido a expansão do emprego e da renda e, em maior ou menor medida, a redução da pobreza e da desigualdade. Para a melhora da situação social contribui ainda um conjunto de políticas públicas praticadas por quase todos os governos no plano da educação, da saúde, da habitação e do saneamento ou por meio dos programas de transferência de renda.

Politicamente, a situação é também inédita, uma vez que todos os governos sul-americanos resultam de eleições livres e democráticas, marcadas por ampla participação popular e pelo aparecimento de novos personagens, até bem pouco tempo atrás relegados às coxias da cena política continental.

É possível que a força que ganharam as propostas de integração na América do Sul decorra da percepção – que têm governos e sociedade civil – acerca das transformações em curso no mundo atual.

Se for certa a tendência de construção de um mundo multipolar, que sucederá ao unilateralismo declinante de hoje, abrem-se grandes perspectivas para a América do Sul.

A região dispõe da maior biodiversidade e dos maiores recursos energéticos e hídricos do planeta. É grande produtora de alimentos. Alguns de seus países possuem significativo parque industrial, universidades e centros de pesquisa científica e tecnológica de excelência. A extensão e a diversidade de seu território, somadas ao tamanho de sua população e a seu PIB, são trunfos importantes para quem tem pretensões de ser ator global.

A isso, acrescente-se ainda o fato de a América do Sul ser uma zona de paz, onde, à exceção do conflito colombiano, não se verificam situações de beligerância como em outras partes do mundo.

Para lograr a integração que lhe permita uma presença global, a região necessita garantir crescimento sustentado para enfrentar seu maior desafio – a persistência da pobreza e, sobretudo, da desigualdade social.

Em sua agenda – além da questão social e ligada a ela – está a construção de uma infra-estrutura física e energética capaz de dar viabilidade e consistência à integração. Não por acaso essas questões, junto com a criação de mecanismos financeiros, como o Banco do Sul, estão no centro das discussões da União das Nações Sul-Americanas (Unasur), cujo Trata do Constitutivo está em processo de elaboração.

A contradição entre a consciência da necessidade da integração e o ritmo lento em que ela se realiza – sem falar dos conflitos e retrocessos eventuais – pode ser explicada pela diversidade dos processos econômicos, sociais e políticos em curso em cada um dos países.

No Cone Sul
Sem intenção de construir uma tipologia de países – procedimento perigoso, pois tende a aniquilar especificidades e produzir falsas coincidências ou antagonismos –, é possível descobrir afinidades históricas que ajudam na compreensão do complexo mosaico que é a América do Sul.

Pode-se estabelecer similitudes entre as situações de Chile, Argentina, Uruguai e Brasil, assim como descobrir algumas aproximações na evolução de países como Venezuela, Peru, Equador e Bolívia.

Nos anos 1960-1970, os quatro países viveram profundas crises econômicas e sociais com graves desdobramentos políticos.

Ainda que com economias diferenciadas, enfrentaram nesse período a crise de seus projetos nacional-desenvolvimentistas, que, por meio de uma industrialização substitutiva de importações mais ou menos radical, havia produzido considerável transformação na economia e na sociedade, especialmente a partir dos anos 1930-1940.

Na queda do ambíguo reformismo de Goulart, nos sucessivos impasses do peronismo – desde a deposição do general em 1955 até sua metamorfose nos 70 –, no fim trágico da experiência do socialismo chileno ou no colapso do modelo de bem-estar uruguaio, revelaram-se, ainda que em forma diferenciada e alternada, os limites do projeto nacional-desenvolvimentista.

Em alguns casos, verificou-se a incapacidade de obter crescimento e estabilidade macroeconômica e de lograr de forma sustentada um processo de distribuição de renda que atendesse às crescentes demandas daqueles que ingressavam na sociedade de massas em construção. Em outros casos, predominou a incapacidade de combinar desenvolvimento com democracia.

O golpe de 64 no Brasil, a sucessão de aventuras militares na Argentina, de 1955 aos anos 70, o pronunciamiento de Pinochet ou a deriva autoritária do Uruguai tiveram como mola propulsora a decisão conservadora de frear as fortes mobilizações populares que propugnavam reformas estruturais no modelo hegemônico.

A agenda das mudanças incluía a redução da vulnerabilidade externa de nossas economias, o fortalecimento do papel do Estado e reformas econômicas, sociais e políticas em proveito das maiorias excluídas.

A violência dos golpes foi diretamente proporcional ao peso dos movimentos sociais, em especial de suas organizações sindicais e partidárias.

As ditaduras militares se igualaram em seu rechaço à democracia e às práticas e instituições do Estado Democrático de Direito. Diferenciaram-se no que se refere às opções de política econômica. No Chile, na Argentina e no Uruguai optou-se por uma orientação (neo)liberal, com fortes componentes antiindustriais, reforçados por uma pronunciada abertura externa. Já os militares brasileiros – após o breve ajuste dos primeiros anos da ditadura – aprofundaram o nacional desenvolvimentismo, agravando seus traços autoritários e concentradores de renda.

As conseqüências foram diferenciadas: a política neoliberal nos três primeiros países, além de golpear estruturalmente as classes trabalhadoras, baseou-se na cruel repressão política a suas organizações. No Brasil, o desenvolvimentismo dos militares – ainda que golpeando sindicatos e esquerdas – foi acompanhado de um enorme crescimento das classes trabalhadoras e, a despeito da repressão assinalada, acarretou o surgimento de um sindicalismo de novo tipo, como aquele que esteve na origem do Partido dos Trabalhadores.

Essas realidades diversas tiveram conseqüências no processo de democratização que se seguiu ao fim das ditaduras nos quatro países.

A transição para a democracia ocorreu ao mesmo tempo que a implementação de políticas de ajuste, com as quais supostamente se buscava enfrentar os desequilíbrios macroeconômicos, preparando os países para uma etapa de crescimento. O caráter tardio do ajuste brasileiro, só ocorrido nos anos 90, deveu-se ao peso da mobilização dos trabalhadores e às resistências manifestadas por setores empresariais e das classes médias.

Os resultados, em todos os casos, foram opostos às intenções que os conservadores perseguiam e anunciavam. Não se logrou o equilíbrio macroeconômico, como ficou emblemática e tragicamente demonstrado no caso argentino. Tampouco os países foram preparados para um ciclo de crescimento. Ao contrário: desnacionalizou-se e desestruturou-se o aparato produtivo; sucateou-se o Estado, impossibilitando-o de exercer até mesmo uma função regulatória; degradaram-se as políticas públicas; os movimentos sociais foram criminalizados, enquanto o pensamento único buscava desqualificar alternativas teóricas e políticas contestatórias.

O fracasso dessas políticas – que conduziu os quatro países a uma profunda crise econômica e social, quando não institucional – provocou a onda renovadora que permitiu as vitórias sucessivas da Concertación no Chile, as duas eleições de Lula no Brasil, a vitória de Néstor Kirchner e a posterior eleição de Cristina Fernández, na Argentina, e o triunfo de Tabaré Vázquez, no Uruguai.

As diferenças nas políticas econômicas aplicadas em cada um dos países correspondem menos a posturas ideológicas dos seus governantes do que a condicionantes nacionais que aconselhavam tratamento distinto para realidades diferenciadas.

Sem ânimo de qualquer exercício de futurologia ou mesmo de fazer previsões de curto ou médio prazo, parece evidente que os quatro países entraram em um círculo virtuoso de desenvolvimento, que associa crescimento, distribuição de renda e fortalecimento democrático.

O próprio tema da vulnerabilidade externa – que ocupou sempre lugar central na política sul-americana – aparece hoje de forma bastante diferente. A maioria dos analistas assinala que o aprofundamento da atual crise econômica internacional não terá sobre a América do Sul o impacto destruidor que se fez sentir nos sucessivos episódios da década de 90.

Uma mudança de época?
O ímpeto reformador que ocorre na área andina tem outra configuração histórica.

Em primeiro lugar, porque as economias de Venezuela, Peru, Equador e Bolívia são bastante distintas daquelas do Cone Sul. Trata-se de economias baseadas em importantes fontes energéticas – petróleo e gás – e em abundantes recursos minerais.

As classes dominantes desses países, em boa medida, não utilizaram, no passado, o importante trunfo que representavam esses produtos primários para construir economias mais complexas, agregando valor ao petróleo, ao gás ou aos minérios. Tampouco usaram os excedentes das exportações para construir uma agricultura – que as condições permitiam e aconselhavam desenvolver – para atender, no mínimo, o mercado interno. Menos ainda foram capazes de uma iniciativa industrializante consistente. Em poucos casos – e apenas circunstancialmente – realizaram políticas redistributivistas.

Ao contrário, fortaleceu-se uma classe dominante basicamente rentista e parasitária. O drama da polarização social daí decorrente foi potencializado de forma explosiva pelo forte componente étnico presente em países como Bolívia, Equador e Peru.
A vulnerabilidade externa de economias primário-exportadoras mineiras é historicamente conhecida. Os efeitos da crise de 1929 na América Latina demonstram que foram elas as mais atingidas por aquele episódio. O impacto de crises estruturais ou sazonais sobre o equilíbrio fiscal do Estado é muito forte. A experiência do “Caracazo”, como ficou conhecida a rebelião popular de 1989 em resposta às medidas aplicadas pelo então governo venezuelano, por determinação do Fundo Monetário Internacional, é exemplo revelador, mas não o único.

Essa classe dominante rentista construiu sistemas políticos perversos. Uns aparentemente estáveis, como o venezuelano, onde partidos tradicionais se alternaram no poder. Outros mais visivelmente instáveis, como revelam as sucessivas crises na Bolívia e no Equador ou a aventura fujimorista no Peru. Todos crescentemente apartados das reivindicações populares e insensíveis, sobretudo, às demandas provenientes do fundo dessas sociedades, em especial dos povos originários.

Esse quadro explica a evolução recente da zona andina, marcada pela emergência das camadas populares na política. Essa irrupção ocorre em um ambiente institucionalmente frágil, quando não em desagregação. Não é ocasional – menos ainda resultado de um suposto radicalismo – que em três desses quatro países se tenha colocado a necessidade de uma Assembléia Constituinte para reorganizar as instituições, ajustando-as à nova configuração sociopolítica dos países.

O que uma visão simplista, teoricamente, e conservadora, politicamente, chama de ressurgimento do “nacionalismo populista” na área andina, supostamente responsável pela “desestabilização” da região, não passa da construção de um novo equilíbrio político.

Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, longe de serem fatores de instabilidade, são, antes, a possibilidade real de uma nova estabilidade fundada não na desigualdade e iniqüidade sociais ou na submissão externa, mas na soberania nacional e popular.

Nesse sentido, independentemente das diferenças de apreciação que possa haver em relação às experiências em curso na Venezuela, na Bolívia e no Equador, é evidente que esses países vivem hoje mais que uma época de mudanças. Como diz Rafael Correa, lá se assiste a uma “mudança de época”.

Os sintomas de “instabilidade” que alguns detectam nesses ricos processos são fundamentalmente sinais recorrentes em todas as “mudanças de época” na História.

A própria realidade peruana não é alheia a esse quadro. Não por acaso, no segundo turno das últimas eleições presidenciais daquele país defrontaram-se dois projetos de forte base popular. O reformismo aprista de Alan Garcia, vencedor, e o projeto reformista de Ollanta Humala.

O caráter esquemático destas notas – explicável pelas limitações do espaço e da capacidade analítica do autor – deixa de fora situações históricas complexas e relevantes como as da Colômbia e do Paraguai, para não falar da Guiana e do Suriname. O que se buscou basicamente foi oferecer, com a precariedade assinalada, um dos cenários possíveis para compreender as transformações em curso na região.

Ele talvez ajude a esclarecer um paradoxo: por que o forte ímpeto reformista econômico, social e político na América do Sul, que anima projetos de integração regional, vem acompanhado de tendências centrífugas e de conflitos que criam dificuldades a essa mesma integração.

Ainda que esteja fora dos propósitos desta reflexão, penso que o entendimento dos processos em curso na América do Sul permitirá compreender não só as formulações mais gerais da atual política externa brasileira como também suas manifestações práticas.

Os dilemas que vive a região não são o resultado de visões “realistas”, de um lado, contra posições “ideológicas” e “voluntaristas”, de outro. Simplesmente refletem percepções e, sobretudo, interesses diferenciados. Para quem se acostumou com uma América do Sul monocórdia, isso pode chocar.

Muitos pensavam que a evolução do continente não passava de uma questão de destino. Não percebem, ou não querem perceber, que a História é, antes de tudo, construção humana.

Marco Aurélio Garcia é assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República.

Texto publicado na revista Teoria & Debate, edição de janeiro/fevereiro de 2008.

Um dia especial - de cabo a rabo!

Este último domingo, 17, foi muito especial para mim. Terminei o meu domingo com uma sensação muito agradável, pois tive oportunidade de fazer coisas que adoro e que nem sempre tenho oportunidade de fazer de uns tempos pra cá.

Comecei o dia sem a obrigação de acordar cedinho... O que já me deixa feliz, pois adoro dormir até mais tarde! E tem coisa mais gostosa do que acordar sem pressa, falar com meu amor ao telefone, combinar um encontro e saltar feliz da vida da cama, só por saber que vou encontrar meu amor em instantes para tomar café-da-manhã e ganhar/fazer muitos carinhos? Melhor ainda quando esse café-da-manhã se transforma em passeio, e esse passeio se transforma num almoço bem gostoso...

Depois de voltar pra casa, ficar espreguiçando na cama enquanto leio minhas revistas que adoro tanto... Devorei uma Speak up inteira em pouco tempo... Fiquei feliz em saber que agora existirá uma versão dessa revista que adoro em espanhol - com certeza virarei leitora assídua também dessa nova revista.

E os rituais de beleza? rsrs Nada melhor do que fazer depilação com calma, tomar um banho demorado cheio de sabonetes, óleos e cremes esfoliantes... Enrolar o cabelo numa toalha e ficar enchendo o corpo de cremes hidratantes... Uma delícia.

Delícia sair com as amigas queridas Ré e Ju, passar pra pegar o Washington, como nos velhos tempos, e ir ao SESC fazer um programa que ADORO: ver a minha banda favorita (Mandinga) tocando aquele repertório batido mas que é a nossa cara. Cantar todas as canções junto com o André, rir de satisfação ao ver como o César e o Ricardo parecem duas crianças brincando, quando tocam... Ficar surpresa em ver como o César exagera nos solos de guitarra - será que não aprende que essa banda não é de rock? - e quase explodir de felicidade porque as amigas Laine e Leine também apareceram por lá. Há quanto tempo não víamos a nossa banda todas juntas? Quantas lembranças passaram pela minha cabeça, de tanta coisa que vivemos assim... Uma delícia realmente.

Uma delícia também ir comer uma pizza com a Ré, a Ju, o André e o Washington - como nos velhos tempos - ficar ouvindo o Washington falando mil coisas sobre mil assuntos ao mesmo tempo e ficar imaginando de onde ele tira tanta coisa pra falar. Me divertir com as caras do André, com as tiradas dele, de mal humor, com a preocupação velada dele com o Emilio Martins - que, soubemos depois de uma ligação do André pra ele para o convidar pra pizza, ficou magoadíssimo porque os 3 da banda o abandonaram no SESC quando ele havia saído para buscar água para todos e ninguém o esperou! Pois o André fica preocupado, embora não dê o braço a torcer. E é bonito ver como a amizade dos dois é especial.

Delícia voltar dirigindo com meus amigos dentro do meu carro, como nos velhos tempos, contando as coisas de cada um: a casa que está pintando, o casamento que está chegando, a feira em São Paulo cheia de novas tendências, a viagem dos sonhos que vai acontecer essa semana... Que delícia sentir que os amigos da gente, por mais que fiquemos algum tempo sem vê-los, sempre se encaixam perfeitamente na nossa vida. Sempre são naturalmente agradáveis e nos completam. Sempre!

Delícia voltar pra casa, assistir TV com meus pais, cuidar dos meus pedidos da Natura, escrever no meu blog, ligar para o meu amor e saber que ele está feliz porque foi voar de asa-delta...

Que bom terminar o final de semana sabendo que por mais atribulados que sejam os dias úteis tenho uma família saudável e feliz, amigos que são meu porto seguro e um amor que é uma jóia rara, e com o qual tenho vontade de construir uma vida cheia de sonhos e de felicidade conjunta.

Que venha a próxima semana!

17/02/2008

Releituras

O Nelson Rodrigues costumava dizer - cansou de dizer, como lhe era peculiar! Repetia muitíssimas vezes tudo aquilo em que acreditava! - pois bem, o Nelson Rodrigues costumava dizer que deve-se ler pouco e reler muito. Uma releitura pode nos ensinar muito mais do que uma leitura inédita. Segundo ele, a cada releitura de um mesmo livro nos deparamos com novas interpretações. Da segunda leitura de um mesmo texto em diante, não há em nós, leitores, aquela "descoberta do texto desconhecido". Nós já conhecemos o que estamos lendo, portanto podemos focar nossa atenção a detalhes e ensinamentos que da primeira vez nos haviam ficado em segundo plano. Um texto que em uma primeira leitura poderia eventualmente parecer raso, em outras releituras pode abranger uma significância surpreendente. Compreendo o que ele disse. Concordo com ele. E creio que grande parcela dessa mudança de significado tem a ver com o próprio leitor. Quando lemos algo, involuntariamente refletimos o que estamos vivendo naquele texto. Tento explicar melhor com um exemplo bem besta: uma pessoa casada e feliz lê um romance. Retira dele a história água com açúcar e alguns ensinamentos. Anos depois, viúva, relê o mesmo livro e vê na história refletidas situações pelas quais ela mesma passou - situações essas que não houvera passado na primeira oportunidade em que lera o mesmo romance. Com certeza essa segunda leitura para ela trouxe novos significados - e novas lições - sobre o mesmo livro.
Da mesma forma que os livros, estão aí as canções.
Canções que ouvimos hoje, sob todo o contexto de nossa vida de agora, muitas vezes podem nos significar muito diferentemente do que já significaram no passado.
É por isso que eu amo tanto as canções.
Elas têm o poder de nos trazer lembranças boas e ruins em segundos. Nos deixam tristes, melancólicos, felizes, saudosistas, esperançosos...
A mesma canção. A mesma reprodução da mesma gravação com o mesmo artista e o mesmo arranjo.
E é assim que sigo apaixonada por todas as canções que significam e que já significaram muito pra mim.
Elas me aquecem o coração, cada uma a seu modo.
E me fazem ficar surpreendida e feliz a cada vez que sou tocada de uma forma diferente por uma velha conhecida, que, a priori, não teria mais como me surpreender.
E é assim que numa tarde comum, num caminho banal entre casa e trabalho, ouvindo um CD batido já ouvido outras 500 mil vezes, pode ser que você venha a descobrir uma nova faceta de um verso... e você sentirá algo tão bom dentro do seu peito, que irá ganhar o dia!


Novamente
(Fred Martins / Alexandre Lemos)

Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre, o coração intui
Que ao mesmo tempo que machuca
O tempo, o tempo flui
E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia
Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que magoa o tempo me passeia
Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós
Quem sabe soletrar adeus
Sem lágrimas, nenhuma dor
Os pássaros atrás do sol
As dunas de poeira
O céu de anil do pólo sul
Há dinamite no paiol
Não há limite no anormal
É que nem sempre o amor
É tão azul
A música preenche sua falta
Motivo dessa solidão sem fim
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo
O tempo salta

15/02/2008

Planeta Sustentável

Para quem ainda não conhece, não sabe o que está perdendo...
O movimento "Planeta Sustentável" é mais uma dessas iniciativas que enchem o coração da gente de esperança, pois nos fazem perceber que tem bastante gente boa que ainda pensa em coisas importantes nesse nosso Brasilzão tão contraditório.Foi da revista Claudia de fevereiro que retirei o texto que reproduzo abaixo - e que é mais um texto que eu queria que fosse lido - e sentido - por todo mundo... Mas no site do movimento há muitos outros artigos preciosos que merecem uma visitinha, no mínimo, semanal.
Não concordo com os "radicalismos ecológicos", que acabam por transformar ativistas em "eco-chatos" perante a opinião pública. No entanto, acho que a idéia central do texto abaixo, do movimento Planeta Sustentável em si e de toda nossa reflexão diária, é a idéia de que SIM, é possível - e muito desejável - mudar algumas de nossas atitudes diárias com vistas a mudar o mundo que queremos deixar para nossos filhos para um mundo bem melhor.
É como já recomendou um dia o grande John Lennon: "pense globalmente e aja localmente". Há gente no mundo, como ele, que enxerga bem adiante de sua época... Afinal, quando Lennon proferiu essa famosa frase, alguém poderia supor que estaríamos hoje com muitos holofotes voltados à sustentabilidade, ao aquecimento global, às mudanças climáticas e à necessidade premente de mudar nossas atitudes?
Os visionários...
Mas esse já é outro assunto!

Boa leitura!


Não posso mudar para Estocolmo
(mas dá pra parar de tomar café no copo de plástico)

Este é o Ano Internacional do Planeta Terra. E é por isso que vou dividir com você alguns desejos e sugestões concretas para este tempo que se inicia. Já sei, já sei que não adianta chorar se eu não fizer a minha parte...


Por Paula Taitelbaum*
Revista Claudia - 02/2008



Quando eu era pequena, ozônio era nome de personagem de ficção científica, a gente usava óleo bronzeador no lugar de filtro solar, apagar as luzes era para preservar o dinheiro e não o planeta e, se o chuveiro ficasse pingando, o único problema era aquele barulhinho chato. Claro, já tinha muito hippie abraçando árvore, buscando ar puro e deixando de comer carne. Mas sustentabilidade era uma palavra que não fazia parte do nosso vocabulário. E, que eu saiba, nenhuma menina de 6 anos sonhava em ser cientista ecológica, a profissão que minha filha, bem decidida que é, já comunicou como sendo a sua escolhida.

Se ela vai ou não mudar de idéia, só o tempo dirá. O que sei é que, independentemente disso, todas as crianças que têm acesso à escola e à informação aprendem desde cedo a fechar as torneiras e abrir a boca para reclamar de quem joga lixo no chão. Há uma consciência precoce que percorre a novíssima geração; tenho a sensação de que eles sabem mais do que a gente. Mesmo assim, acho que ainda há o que dizer aos nossos miniecologistas: "Filha, olha só, se eu fosse você iria morar em Estocolmo, a capital da Suécia. De preferência, naquele bairro cem por cento ecológico, onde os telhados são cobertos de grama para absorver a chuva que depois é armazenada no subsolo dos prédios. Lá, onde há painéis imensos que absorvem a luz do sol e a transformam em energia elétrica. E também tubos que captam o ar e o mandam para a casa inteira, dispensando de vez o ar-condicionado. E sabe o que os moradores desse lugar fazem com o lixo? O seco vai para a central de reciclagem através de túneis subterrâneos. E o orgânico vira gás de cozinha.

Sim, minha filha, eu sei que não adianta nada eu ficar falando tudo isso se às vezes eu tenho preguiça e pressa e acabo jogando um potinho de iogurte no meio das cascas de fruta. Mas a mãe tá errada, viu? Juro que vou ser uma boa menina e me comportar melhor a partir de amanhã. Tá, tá, eu também prometo ser mais cuidadosa e não deixar a torneira aberta enquanto estiver escovando os dentes. Eu sei, eu sei que não adianta chorar quando vejo uma imensa área de terra desmatada se não fizer a minha parte.

Eu tenho plena consciência de que poderia ser uma cidadã melhor do que sou. E também sei que minha filha dificilmente seguirá meu conselho. Duvido que ela more em Estocolmo. Até porque a cidade-modelo não está aberta para todo e qualquer cidadão terceiro-mundista se instalar por lá. Mas pelo menos dá para a gente aprender com os suecos. Em Estocolmo, existem os carros comunitários. Uma idéia que surgiu para que menos automóveis circulem pelas ruas e, conseqüentemente, menos poluição vá para o ar. É mais ou menos como as bicicletas de Paris. Se você precisa ir a algum lugar, pega o carro comunitário que está estacionado, dirige tranqüilamente por esquinas impecáveis de tão limpas, não paga nada (nem gasolina) e depois deixa em qualquer lugar para que outra pessoa use. Obviamente, não daria certo por aqui.

Aliás, aqui no Brasil nem as áreas de preservação ambiental parecem dar certo. Eu conheço APAS (áreas de proteção ambiental) no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na Bahia. E em praticamente todas vi feridas nos morros e cicatrizes nos campos, mostrando que o dinheiro compra tudo, até o que deveria estar protegido a sete chaves. Da serra ao mar, a gente percebe que o concreto cresce com força sobre solos que são sagrados. Prova de que o ser humano pode ser muito mais irracional do que qualquer um dos nossos animais.

Mas vamos ser otimistas. Afinal, 2008 é o Ano Internacional do Planeta Terra. E é por isso que vou dividir com você - e com a minha filha - alguns desejos sustentáveis para este ano que se inicia.

SACOLA E SORRISO
Desejo que todos usem menos sacolas plásticas de supermercado. Não precisa ser uma autêntica e fashion Eco Bag, idéia que virou mania no mundo inteiro. Pode ser aquela boa e velha sacola de feira, feita de palha, de lona ou de qualquer material reciclado. A lojinha de artesanato do seu bairro com certeza oferece algumas opções cheias de estilo. Sem contar que só assim o mundo aposenta de vez aqueles "puxa-sacos" feiosos, que ficam só atrapalhando a decoração da cozinha.

Mas tem uma coisa: não adianta ficar em dia com a tendência sustentável do mundo se não ajudarmos a melhorar também o clima entre as pessoas. Eu sugiro o seguinte: quando estiver colocando as compras dentro da sua bolsa ecologicamente correta, aproveite para sorrir para a moça do caixa e dizer algo como: "Tenha um bom dia".

Desejo também que possamos andar mais a pé ou de bicicleta. Assim, além de evitar a emissão de gases poluentes, a gente também evita virar uma pessoa sedentária ou do tipo que não consegue olhar direito para o tom e a textura das árvores que ainda resistem de pé. Aliás, desejo que você abrace mais árvores. E não só árvores, mas mais pessoas. Crianças, adultos e idosos. E que não faça distinção de cor, credo ou classe. Quantas vezes você já abraçou a sua empregada? Aquela pessoa que cuida dos seus filhos e da sua casa inteira. Um abraço inesperado pode até fazer água brotar, nem que seja dos olhos.

E, por falar em água, desejo que, além de fechar bem as torneiras, todos nós possamos abrir os olhos ao mergulhar nos mares e pisar nas cachoeiras. E que as praias sejam mais limpas. E que a gente não tenha micose. E que ninguém fique calado quando se deparar com um daqueles condomínios que, para serem erguidos, colocaram abaixo uma vida que levou centenas de anos para crescer. Desejo mais uma coisa: que as pessoas deixem de se associar a clubes que, para construir uma piscina, aterraram parte de um rio.

LOUÇA E LEVEZA
Desejo também que todos nós possamos viajar para Estocolmo. Mas, se for impossível ir para lá, que seja para algum lugar que nos ensine a valorizar a natureza e a história. E que, ao viajar, a gente carregue malas mais leves. Porque, fiquei sabendo há pouco, quando carregamos menos bagagem, poupamos não só a nossa coluna como o meio ambiente. Eu sei que isso é tarefa bem difícil para nós, mulheres, mas, quando o avião está mais leve, ele consome menos combustível e diminui a quantidade de gás carbônico emitida no ar.

Aproveitando o embalo turístico, desejo que, para a preservação da nossa saúde mental, não fiquemos tanto tempo em aeroportos. Quando não estivermos viajando, desejo que a gente não use tantos copinhos de plástico na hora do cafezinho. Que a xícara de louça seja palavra de ordem no escritório. E, se tiver como, que o café usado seja orgânico. Como orgânica pode ser até a roupa que a gente veste agora. Chega de alimentos com excesso de química. Que a gente seja mais natural em 2008. Inclusive nas nossas relações pessoais.

Para um novo ano, desejo um novo mundo. Um mundo de gente que não destrua sambaquis
nem arranque samambaias. Um mundo onde a gente possa transcender mais e não precise fugir para uma estação orbital. Um mundo onde todossejam um pouco mais "cientistas ecológicos". Um mundo que tenha a chance de crescer junto com os sonhos da minha filha.


*Paula Taitelbaum, autora deste artigo, é escritora, tem 38 anos, e é mãe de clara, 6 anos, futura cientista ecológica.

13/02/2008

Nova Comissão Executiva Nacional do PT

Diretório toma posse e elege nova Comissão Executiva Nacional do PT

O presidente reeleito Ricardo Berzoini e os 81 integrantes do Diretório Nacional do PT tomaram posse neste sábado (9) e elegeram a nova Comissão Executiva Nacional do partido, composta por 18 membros – além do próprio Berzoini e dos líderes das bancadas petistas na Câmara Federal e no Senado.

Com a eleição de hoje, a Executiva passa a ter a seguinte composição:

Presidente: Ricardo Berzoini

Vice-presidentes: Marco Aurélio Garcia, Iriny Lopes e Jorge Coelho

Secretário Geral: José Eduardo Cardozo

Secretário de Organização: Paulo Frateschi

Secretário de Finanças e Planejamento: Paulo Ferreira

Secretário de Comunicação: Gleber Naime

Secretário de Formação Política: Joaquim Soriano

Secretário de Assuntos Institucionais: Romênio Pereira

Secretário de Relações Internacionais: Valter Pomar

Secretária de Mobilização: Marinete Merss

Secretário de Movimentos Populares: Renato Simões

Líder no Senado: Ideli Salvatti

Líder na Câmara: Luiz Sérgio

Vogais: Fátima Cleide, Arlete Sampaio, Humberto Costa, Maria do Carmo Lara, Maria do Rosário e Valdemir Garreta

Confira abaixo quem são os membros efetivos do novo Diretório Nacional:

PRESIDENTE: RICARDO JOSÉ RIBEIRO BERZOINI SP


LÍDER NO SENADO: IDELI SALVATTI SC

LÍDER NA CÂMARA: LUIZ SÉRGIO RJ

ADALBERTO FUGÊNCIO DOS SANTOS JUNIOR PB

ANA JÚLIA DE VASCONCELOS CAREPA PA

ANDRÉ LUIZ VARGAS ILÁRIO PR

ANTONIO CARLOS SOARES RJ

ANTONIO RIBEIRO (FREI ANÁSTACIO)PB

ARLETE AVELAR SAMPAIO DF

BENEDITA SOUZA DA SILVA SAMPAIO RJ

CARLA LOPES DA SILVA MS

CARLINHOS ALMEIDA SP

DEVANIR RIBEIRO SP

ELÓI ALFREDO PIETÁ SP

FABIANO PEREIRA RS

FRANCISCO JOSÉ CAMPOS RODRIGUES SP

GILNEY AMORIM VIANA MS

FÁTIMA CLEIDE RO

GLEBER NAIME DE PAULA MACHADO MG

HENRIQUE FONTANA JÚNIOR RS

HUMBERTO SÉRGIO COSTA LIMA PE

IRINY NICOLAU CORRES LOPES ES

ISRAEL DA SILVA MARTINS CE

IVAN ALEX TEIXEIRA LIMA BA

JILMAR AGUSTINHO TATTO SP

JOÃO ANTONIO FELICIO SP

JOÃO CARLOS COSER ES

JOÃO PAULO LIMA E SILVA PE

JOÃO VACCARI NETO SP

JOAQUIM CALHEIROS SORIANO SP

JOAQUIM WASHINGTON LUIZ DE OLIVEIRA MA

JORGE LUIZ CABRAL COELHO SP

JOSÉ EDUARDO MARTINS CARDOZO SP

JOSÉ NOBRE GUIMARÃES CE

JOSÉ WELLINGTON BARROSO DE ARAÚJO DIAS PI

JOSIAS GOMES DA SILVA BA

LUIZ EDUARDO RODRIGUES GREENHALGH SP

LUIZ GONZAGA DA SILVA SP

LUIZ PAULO TEIXEIRA FERREIRA SP

LUIZ SÉRGIO NÓBREGA DE OLIVEIRA MG

LUIZ SOARES DULCI MG

LUIZIANNE DE OLIVEIRA LINS CE

MARCEL MARTINS FRISON RS

MARCELINO GALO BA

MARCELO DOS ANJOS MASCARENHA PI

MÁRCIO COSTA MACÊDO SE

MARCO AURÉLIO DE ALMEIDA GARCIA SP

MARCOS ANTONIO PEREIRA DE OLIVEIRA PA

MARIA ANGÉLICA FERNANDES SP

MARIA APARECIDA DE JESUS MG

MARIA APARECIDA DIOGO BRAGA RJ

MARIA DO CARMO LARA PERPÉTUO MG

MARIA DO ROSARIO NUNES RS

MARIA EUNICE DIAS WOLFF RS

MARIA IVONETE BARBOSA TAMBORIL RO

MARIA LÚCIA PRANDI GOMES SP

MARIA MARINETE MERSS SC

MARIA NICE MACHADO AIRES MA

MARIA SELMA DE MORAES ROCHA SP

MARÍLIA APARECIDA CAMPOS MG

MARKUS SOKOL SP

MARTVS ANTONIO ALVES DAS CHAGAS MG

MÔNICA VALENTE SP

PATRUS ANANIAS DE SOUSA MG

PAULO ADALBERTO ALVES FERREIRA RS

PAULO FERNANDO DOS SANTOS AL

PAULO FRATESCHI SP

PEDRO LUIS TERUEL MS

RACHEL XIMENES MARQUES CE

RAUL JORGE ANGLADA PONT RS

RENATO SIMÕES SP

ROMÊNIO PEREIRA MG

RONALDO DA SILVA SANDIM MS

RUBENS ALVES DA SILVA MS

RUBENS OTONI GOMIDE GO

SHEILA MARIA ASSIS DE OLIVEIRA PE

SILBENE SANTANA DE OLIVEIRA MT

TARSO FERNANDO HERZ GENRO RS

UBIRAJARA DO PINDARÉ ALMEIDA SOUSA MA

VALDEMIR FLAVIO PEREIRA GARRETA SP

VALTER VENTURA DA ROCHA POMAR SP

VERA LUCIA FERREIRA GOMES PE

VILSON AUGUSTO DE OLIVEIRA SP

WILMAR LACERDA DF

Fonte: Portal do PT: http://www.pt.org.br/portalpt/index.php?option=com_content&task=view&id=10351&Itemid=195

11/02/2008

Ana Maria Stuart

Nani Stuart: Mais de duas décadas de dedicação ao PT

Ana Maria (Nani) Stuart nasceu na cidade de Rosário (Argentina) no dia 12 de setembro de 1945.Iniciou sua militância política na Argentina. Exilada no Brasil, teve um papel destacado na construção da Secretaria de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores, ao qual dedicou mais de duas décadas de sua inteligência, dedicação e alegria.

Nani manteve uma rica trajetória acadêmica, concentrando-se principalmente nas questões e desafios da integração latino-americana e da democracia nas relações internacionais. Após licenciar-se em Ciências Políticas e Diplomáticas na Universidade Nacional de Rosário, prosseguiu sua formação na Universidade de São Paulo, fazendo mestrado e doutorado na FFLCH.

Ana Maria era, também, docente de Relações Internacionais da Unesp, além de pesquisadora do Centro de Estudos Contemporâneos (CEDEC) e integrante do Núcleo de Pesquisas em Relações Internacionais (NUPRI)-USP. Também era membro do Grupo de Análise da Conjuntura Internacional (GACINT)-USP e do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI).

Ana Maria Stuart partiu nesta manhã de 11 de fevereiro de 2008. As mensagens emocionadas que chegam de todo o Brasil e de todo o mundo são um testemunho do imenso carinho e respeito que ela merece e seguirá merecendo.

As informações são da Secretaria de Relações Internacionais. Notícia publicada no site do PT em 11/02/2008 - às 15:26

Ana Stuart, com Susana Delbó, da Fundação Jean-Jaurès e Eduardo Sigal,do Ministério de Relações Internacionais da Argentina

fazendo o impossível

"Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível".

Francisco de Assis

07/02/2008

orgulho

"Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio."
(Santo Agostinho)

06/02/2008

Quarta-feira sempre desce o pano

Toda quarta de cinzas eu me lembro dos versinhos dessa canção...
E já que comecei os textos carnavalescos com uma letra do Chico, nada mais certo do que terminar com outra.
E que venha o Ano Novo (já que dizem por aí que no Brasil só começa o ano depois do Carnaval... Cada coisa!)



Sonho de um carnaval
Chico Buarque/1965

Carnaval, desengano
Deixei a dor em casa me esperando
E brinquei e gritei e fui vestido de rei
Quarta feira sempre desce o pano

Carnaval, desengano
Essa morena me deixou sonhando
Mão na mão, pé no chão
E hoje nem lembra não
Quarta feira sempre desce o pano

Era uma canção, um só cordão
E uma vontade
De tomar a mão
De cada irmão pela cidade

No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança

01/02/2008

Para o Carnaval

Carta de Fernanda Young

Para o Carnaval

Todo ano é a mesma coisa: você chega, fica aqui três dias e aí vai embora. Volta um ano depois, todo animadinho, querendo me levar para a gandaia. Olha, honestamente, cansei.

Seus amigos, bando de mascarados, defendem você. Dizem que sempre foi assim, festeiro, brincalhão, mas que no fundo é supertradicional, de raízes cristãs, e só quer tornar as pessoas mais felizes.

Para mim? Carnaval, desengano... Você recorre à sua origem popular e incentiva essas fantasias nas pessoas, de que você é o máximo, é pura alegria, mas não passa de entrudo mal-intencionado, um folguedo, que nunca viu um dia de trabalho na vida.

Acha-se a coisa mais linda do mundo e é cafonice pura. Vive desfilando pelas ruas, junto com os bêbados, relembrando o passado. Chega a ser triste.

Carnaval, você tem um chefe gordo e bobalhão que se acha um rei, mas não manda em nada. Nunca teve um relacionamento duradouro. Basta chegar perto de você e temos que agüentar aquelas fotos de mulheres nuas, que são o seu grande orgulho.
Você não tem vergonha, não?

Sei que as pessoas adoram você, Carnaval, mas eu estou cansada dos seus excessos e dessa sua existência improdutiva. Seja menos repetitivo, proponha
algo novo. Desde que o conheço, você gosta das mesmas músicas. Gosta de baile. Desculpa, mas estou pulando fora.

Será que essa sua alegria toda não é para esconder alguma profunda tristeza? Será que você canta para não chorar? Tentei, várias vezes, abordar essas questões, e você sempre mudou de assunto. Ora, chega dessa loucura. Reconheça que você se
esconde atrás de uma dupla personalidade.

Cada vez mais e mais pessoas ficam incomodadas com essa sua falsa euforia, fique sabendo. Conheço várias que fogem, querendo distância das suas brincadeiras.
Você oprime todo mundo com esse seu deslumbramento excessivo diante das coisas, sabia?

Por exemplo, essa sua mania de camarote. Onde os vips podem suar sem que isso pareça nojento. Onde se pode falar torto sem que seja errado. Todos vestidos de uniforme, senão não entram. Todos doidos para passar a mão na bunda um do outro.
Essa é a sua idéia de curtir a vida?

Menos purpurina, Carnaval. Menos bundas, menos dentes para fora. A vida é linda, mas a “lindeza do lindo mais lindo que há no lindíssimo” é um saco. Um pouco de calma e autocrítica nunca fez mal a ninguém. Tudo muda no mundo – por que
você insiste em continuar o mesmo?

A harmonia vem da evolução, não das alegorias. Chegou a hora de rodar a baiana para não atravessar na avenida.

Como será amanhã? Responda quem puder.

Beijos,


Fernanda Young na Revista Claudia de Fevereiro de 2008
(Fernanda Young é escritora, roteirista e apresentadora de TV)