19/06/2011

A grama do vizinho é sempre mais verde

A gente observa certas coisas que acontecem na nossa frente, pela vida afora, e fica pensando: "Puxa vida, há pessoas a quem são dadas tantas oportunidades interessantes, e elas simplesmente não aproveitam..."
Isso é muito triste, e - ao mesmo tempo - preocupante.
Será que eu também rejeito oportunidades boas que me são oferecidas?
Será que alguém também me observa calado(a) e pensa: "Por que essa daí não aproveita essa bruta oportunidade que está diante dela?"
Será que estamos todos deixando nossa boas oportunidades passarem, simplesmente por praticarmos a eterna mania humana de cobiçar o que é do próximo? A grama do vizinho é sempre mais verde. Será mesmo? Sempre vai ter um vizinho achando a minha grama mais verde que a dele, com certeza.
Viver é uma coisa complexa.

06/06/2011

indignação seletiva

A língua portuguesa e a indignação seletiva

 

            Li recentemente uma matéria na revista CartaCapital que falava da "indignação seletiva" que vira-e-mexe invade coração e mente das hostes oposicionistas no Congresso Nacional. Aliás, a mesma que surge na abordagem que a nossa mídia hegemônica historicamente tem oferecido aos mesmos problemas. Tudo, claro, não passa de uma estratégia de luta pelo poder.

 

            Basta lembrar alguns episódios da nossa história recente para perceber que é assim mesmo que caminha nossa frágil democracia. Protagonistas do governo FHC, por exemplo, como Luiz Carlos Mendonça de Barros, André Lara Rezende, Pérsio Arida, Armínio Fraga, Gustavo Franco, Tereza Grossi – que teriam ficado milionários depois que saíram do governo – não mereceram, nem de perto, principalmente da grande mídia, o tratamento com o qual tem sido agraciado o ministro Palocci.

 

Ou ainda: qual o tratamento dado pela mídia ao ex-governador tucano do Ceará, Tasso Jereissati, quando foi condenado ano passado pela Justiça Federal a ressarcir o Banco do Nordeste em R$ 7 bilhões – valor este equivalente aos danos sofridos pelo Banco "em decorrência de atos fraudulentos" durante seu governo? Tudo passou em brancas nuvens.

 

Atenção: o ministro Palocci tem de prestar contas à sociedade? Claro que tem! Porém, ao Congresso Nacional cabe 'levantar a lebre', o que já foi feito. Não cabe a ele "fazer justiça", papel reservado à Justiça Federal. Abordo apenas os dois pesos e as duas medidas da oposição e da mídia, cujo objetivo fundamental é um só: desgastar e demonizar o governo Dilma. Em síntese, a tática da oposição é paralisar o Congresso e não deixar o governo governar. O povo? Ora, o povo!

 

            A mesma tática foi utilizada recentemente a propósito do livro Por Uma Vida Melhor, de Heloisa Ramos, distribuído pelo MEC para a rede pública. Repete-se aqui o mesmo script da reação preconceituosa e conservadora contra políticas do governo Lula, mais sintonizadas com os interesses maiores do nosso povo, como a da política externa, que não era subalterna aos EUA, e a do Programa Bolsa Família.

 

            Alexandre Garcia, por exemplo, no Bom dia Brasil, e a Globo News, investiram precioso tempo em desinformar. A impressão que dá, é a de que ninguém leu o livro que a revista Veja defenestrou. E todos ficam a repetir os argumentos da revista. Houve até quem pedisse a cabeça do ministro Haddad. O inacreditável, é que a autora do livro sequer foi convidada para se defender.

 

            A grande mentira, propalada à mão-cheia, é que o livro "ensina e enaltece erros de português". Não, ele apenas cita exemplos de como é falado o português popular, coloquial, não acadêmico: "…quando escrevemos um bilhete a um amigo, podemos ser informais, porém, quando escrevemos um requerimento, por exemplo, devemos ser formais utilizando a norma culta". Por isso Heloisa Ramos não fala de erros e acertos, mas sim de "adequação" e "inadequação" da língua. E está absolutamente correta!

 

            Corroboram, os versos de Oswald de Andrade:

 

"Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro".

 

Axé!

 

 

Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-prefeito de S. Carlos.

EEmail: depl@df.ufscar.br

JUN/2011