01/04/2016
A CRISE POLÍTICA ATUAL: UMA GRANDE FARSA
Dermeval Saviani
Professor Emérito da UNICAMP e Pesquisador Emérito do CNPq. Educador
A crise que se abateu sobre o país tem sido justificada em nome do combate à corrupção e, por meio da insistente repetição dos diversos meios de comunicação, vem induzindo a população a acreditar que foi o PT que, ao chegar ao governo, institucionalizou a corrupção instalando uma verdadeira quadrilha empenhada na apropriação privada dos fundos públicos. Mas a verdade é bem outra. O erro do PT foi, ao assumir o governo, não ter tentado desmontar o esquema que já existia e do qual se serviam todos os partidos que chegavam ao poder. Ao contrário, para assegurar uma base de apoio no Congresso sem o que não conseguiria governar, o PT lançou mão do esquema que já se encontrava em funcionamento muito antes do seu surgimento. Portanto, o apelo atual à luta contra a corrupção não passa de uma grande farsa. Como afirmou o delegado da Polícia Federal Armando Coelho Neto, que se aposentou faz apenas dois anos e foi presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, a PF na era FHC estava desaparelhada e carecia de autonomia tendo havido, inclusive, um empréstimo francês para seu aparelhamento que, embora recebido e o governo já estivesse pagando juros, não foi utilizado por falta de planejamento. Em contrapartida, a gestão Dilma tomou treze medidas que aparelharam a Polícia Federal e lhe deram autonomia, assegurando-lhe condições de atuar fortemente na investigação dos atos ilícitos, em especial no caso da corrupção. Mas ele constata que, na verdade, não se está lutando contra a corrupção. Se isso estivesse ocorrendo outras operações estariam em curso. A Operação Zelotes, por exemplo, está abafada porque nela estão envolvidos grandes personagens da política, grandes empresas e bancos, grupos de comunicação, à testa a Rede Globo, num grande escândalo intermediado pelo Banco HSBC que, por conta disso, acabou se retirando do país. Na própria Operação Lava-Jato as delações trouxeram à baila nomes do PSDB e de outros partidos que, no entanto, são blindados. A Conclusão do ex-presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal é que o que está em curso não é uma luta contra a corrupção, mas uma guerra contra o governo e o PT. Bresser-Pereira, por sua vez, que foi um dos mais importantes ministros do governo FHC, tem evidenciado o ódio dos endinheirados contra o PT e, num dos últimos vídeos ele afirma que nos governos de Lula e Dilma os pobres ficaram menos pobres e os ricos mais ricos, sendo que a classe média foi a menos beneficiada. Daí, o cultivo do ódio da classe média contra o PT, ódio incentivado com a insistência da mídia que diariamente, repetindo à exaustão, se dedica a esmiuçar denúncias não comprovadas contra Dilma, Lula e o PT. E isso é muito perigoso porque está em curso uma onda fascista que se manifestou explicitamente com saudações nazifascistas e incitação ao armamento da população, como o fez o deputado Jair Bolsonaro. Este, segundo consta, teria sido avisado previamente da condução coercitiva do Lula que, segundo o plano seria levado preso de Congonhas para Curitiba num jatinho que já estava pronto para decolar, quando a operação foi abortada pelo destacamento da aeronáutica que faz a segurança do aeroporto de Congonhas. Mas Bolsonaro já teria se dirigido a Curitiba para lá incitar a população a se manifestar em apoio à prisão de Lula assim que ele chegasse à carceragem. É um quadro muito preocupante que nos faz lembrar da Alemanha das décadas de 1920 e 1930 com a ascensão de Hitler, apoiado pelo fanatismo que se apossou da população. Naquela situação também a Justiça se revelou draconiana com as ações da esquerda e complacente com a truculência da direita. Agora, no Brasil, está em curso iniciativas que, como observou o jurista Fábio Conder Comparato, deixa o Estado de Direito em frangalhos, com violações de normas constitucionais.
A situação é muito grave e, ao que parece, o golpe irá se consumar porque todas as instituições da República (Judiciário, Ministério Público, a própria OAB, Parlamento, Partidos políticos, toda a grande mídia televisiva, escrita e falada) encontram-se conspurcadas e obcecadas com o único objetivo de destruir o PT e impedir Lula de voltar a se candidatar. E, para isso, não têm pejo em violar as normas jurídicas relativas aos direitos mais elementares, inclusive dispositivos constitucionais. A hipocrisia é tanta que jornalistas, representantes do Judiciário e parlamentares repetem à exaustão que Lula não pode ser ministro porque é investigado, ao mesmo tempo em que se posicionam a favor do impeachment que vem sendo conduzido e manipulado por um parlamentar que não apenas é investigado, mas é réu e se mantém como Presidente da Câmara dos Deputados sendo, nessa condição, o segundo na sucessão da Presidência da República. Então, a pergunta que não quer calar é: por que Eduardo Cunha, que é réu em processo que corre no Supremo Tribunal Federal, pode continuar como deputado e, mesmo, como Presidente da Câmara obstruindo a Comissão de Ética e articulando todos os passos do processo de impeachment; e Lula, que apenas está sendo investigado, não pode assumir a Casa Civil? Diga-se de passagem que esse impedimento é também violação da Constituição a qual determina que a nomeação de ministros no âmbito do Poder Executivo é prerrogativa exclusiva da Presidência da República.
Sim, o que está em curso é um golpe. Claro que o impeachment está previsto na Constituição não podendo, pois, por si mesmo, ser caracterizado como golpe. Mas quando esse mecanismo é acionado como pretexto para derrubar um governo democraticamente eleito sem que seja preenchida a condição que a Constituição prescreve para que se acione esse mecanismo, ou seja, a ocorrência de crime de responsabilidade, então não cabe tergiversar. O nome apropriado nesse caso não é outro. É, mesmo, Golpe de Estado, pois a Constituição não estará sendo respeitada, mas violada. E até agora, nenhuma das alegações apresentadas para justificar o impeachment caracteriza crime de responsabilidade. Aliás, Dilma sequer está sendo investigada ao passo que a Comissão do impeachment tem mais da metade de seus membros em investigação e, no conjunto da Câmara, 302 deputados encontram-se na mesma situação. A farsa está, pois, escancarada: um bando de corruptos julgando e condenando uma presidenta que não cometeu crime algum. E, como a oposição ensandecida deverá, engrossada pelo PMDB, conseguir maioria para aprovar o golpe, restará ao Supremo, cumprindo seu papel de guardião da Constituição, evitar esse desfecho. Se isso não acontecer, a farsa se transformará em tragédia. E o Estado Democrático de Direito deixará de existir no Brasil, vitimado por um Golpe de Estado jurídico-midiático-parlamentar. É, pois, de suma importância uma grande mobilização das forças democráticas, independentemente de partidos e da avaliação positiva ou negativa do governo Dilma, para evitar essa tragédia.
Campinas, 31 de março de 2016.
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21/09/2010
Dá-lhe Dilma
Foi assim que Dilma fez com a Folha de São Paulo (aquele que, um dia, já foi um jornal respeitável)
20/09/2010
11/09/2010
10/09/2010
24/08/2010
22/08/2010
Sim, nós fizemos a revolução!

Acho que ainda estou sob o "efeito Lula".
Eu queria mesmo ter capacidade de escrever um texto bom, para expressar com clareza tudo - ou ao menos parte - daquilo que vi e vivi naquela manhã de 20 de agosto em Sorocaba. São tantos aspectos que poderiam ser abordados... E no fim eu nem sei por onde começar...
Estou vivendo um momento histórico. Tenho plena consciência disso.
Um dia os jovens brasileiros estudarão nas aulas de história do colégio a importância que teve o presidente Lula. A história do Brasil será dividida em duas eras: "antes de Lula" e "depois de Lula".
Assistir ao vivo o presidente ser ovacionado pela plateia - em sua grande maioria estudantes universitários - foi uma sensação indescritível.
Dizem que nos momentos de grande emoção - como à beira da morte, por exemplo -, passa pela nossa cabeça um filme de situações vividas no decorrer de nossa existência e que nos levaram até aquele momento. Afirmo a vocês, sem medo de estar exagerando, que naquelas poucas horas do evento passou um filme na minha cabeça, me lembrando de vários momentos de minha história e da história do nosso companheiro Lula.
Lembrei da campanha de 2002. Da festa da vitória na praça. Da alegria dos militantes que simplesmente não acreditavam que tamanha felicidade - a de eleger o nosso presidente operário - pudesse mesmo ser real, depois de tanta espera.
Lembrei do João Paes (o Joãozinho), descendo de bicicleta a Rua Dona Alexandrina em alta velocidade, com os braços abertos, depois da nossa festa na praça Cel. Salles. Ele queria mesmo era voar. Gritar para o mundo todo ouvir sua felicidade. A imagem mais marcante da felicidade e da realização.
Lembrei da felicidade interior que cada um de nós, militantes petistas, sentimos em cada uma das vezes que nosso presidente era reconhecido internacionalmente por estar mudando o Brasil. Por estar mudando de uma vez por todas a maneira como o restante do mundo enxerga o Brasil. Orgulho.
Lula, em seu discurso do dia 20, disse que parece ironia do destino que justamente o presidente tão julgado por não possuir diploma em curso superior tenha sido o responsável pela maior expansão do ensino público superior no Brasil. Lembrou das dificuldades que enfrentou para implementar as suas ideias que fizeram o milagre acontecer (como o ProUni e o ReUni, por exemplo) e até mesmo das dificuldades que enfrentou para ser eleito pela primeira vez.
Contou do desafio que foi fazer com que as pessoas mais pobres acreditassem que alguém igual a elas (no caso, ele) seria capaz de fazer um governo que começasse a distribuir melhor a imensa riqueza que nosso país produz. A dificuldade em convencer as pessoas para que acreditassem nelas mesmas. E, se elas acreditassem em si, poderiam acreditar nele também. Convenceu. E hoje nós todos colhemos os frutos de sua luta apaixonada por esse ideal maravilhoso.
É só o começo do iceberg. Ainda temos muito por mudar, por avançar.
Lula nos disse, olhando em nossos olhos durante seu discurso, que só precisamos acreditar em nós mesmos para fazer as mudanças que queremos acontecerem. Todos os dias!
Aqueles jovens ouviram seu presidente. Aplaudiram-no. Aclamaram-no. Riram com suas piadas e com seu jeito carinhoso de discursar.
Naquela cerimônia não se ouviram vaias, nem protestos. Fiquei imaginando que aquele ato mais parecia um comício - onde todos que assistem são cabos eleitorais e apoiadores e que, portanto, só aplaudem! - não, definitivamente aquilo não parecia uma cerimônia oficial, onde sempre há quem queira legitimamente reivindicar algo de seu presidente, aproveitar a proximidade da autoridade para gritar suas insatisfações, se fazer ouvir.
Aquelas pessoas que ali estavam fizeram um silêncio absoluto para ouvir seu presidente. Esse silêncio só era interrompido por aplausos e gritos de incentivo. Um povo agradecendo seu presidente, se emocionando com ele, se despedindo dele a pouco mais de 4 meses de terminar seu mandato.
Chorei. Muita gente chorou. Choro agora novamente, somente pela emoção de escrever este texto confuso. Choro pelo turbilhão de emoções que esse episódio me proporcionou, e que estão aqui dentro de mim pra sempre.
Pensei, naqueles momentos, no que deve significar para ele, o presidente Lula, essa satisfação de ser aclamado pelo seu povo. De encerrar seu mandato com aprovação popular recorde, de ter a certeza de que cumpriu sua missão. E de saber que seu povo sentirá saudades dele...
Quando abracei o presidente Lula, em sua chegada para o evento, senti que abraçava o meu companheiro Lula. Aquele que ajudei a eleger, que ajudei a sustentar no governo durante todos esses anos e que por tantas vezes a elite golpista tentou derrubar. Não consegui pensar em mais nada para dizer a ele naquele breve momento em que o tive diante de mim, olhando diretamente para mim e retribuindo meu sorriso. Nada poderia expressar a imensa HONRA que tenho em meu coração e em minha ALMA. A gratidão que tenho a Deus, nosso Pai, por poder ter vivido esse momento histórico.
Só consegui dizer ao presidente: "Bom dia" e, logo depois, um tímido, mas muito verdadeiro "muito obrigada". E pensei comigo: "obrigada por tudo!"
Quando tudo acabou, as autoridades se dispersaram e o presidente se foi, olhei para um colega que estava ao meu lado, com olhos marejados como os meus, e disse o que se passava naquele momento pela minha cabeça: "É. Nós fizemos a revolução".
24/02/2010
Quem era terrorista?
23/02/2010
Quem era terrorista?
Quem era terrorista: a ditadura militar ou os que lutávamos contra ela? Dilma estava entre estes, o senador José Agripino (do DEM, ex-PFL, ex-Arena, partido da ditadura militar) entre os outros.
O golpe militar de 1964, apoiado por toda a imprensa (com exceção da Última Hora, que recebeu todo o peso da repressão da ditadura), rompeu com a democracia, a destruiu em todos os rincões do Brasil, e instaurou um regime de terror – que depois se propagou por todo o cone sul do continente, seguindo seu "exemplo".
Diante do fechamento de todo espaço possível de luta democrática, grandes contingentes de jovens passaram à clandestinidade, apelando para o direito de resistência contra as tiranias, direito e obrigação reconhecidos pela Declaração Universal dos Direitos Humanos. Enquanto nos alinhávamos do lado da luta de resistência democrática contra a ditadura, os proprietários das grandes empresas de comunicação – entre eles os Frias, os Marinhos, os Mesquitas -, os políticos que apoiavam a ditadura – agrupados na Arena, depois PFL, agora DEM, como, entre tantos outros, o senador José Agripino –, grandes empresários nacionais e estrangeiros, se situavam do lado da ditadura, do regime de terror, da tortura, dos seqüestros, dos fuzilamentos, das prisões arbitrárias, da liquidação da democracia.
Quem era terrorista? Os que lutavam contra a ditadura ou os que a apoiavam? Os que davam a vida pela democracia ou os que se enriqueciam à sombra da ditadura e da repressão? Os que apoiavam e financiavam a OBAN ou aqueles que, detidos arbitrariamente, eram vitimas da tortura nas suas dependências, fuzilados, desaparecidos?
Quem era terrorista? José Agripino ou Dilma? Os militares que destruíram a democracia ou os que a defendiam? Quem usava a picanha elétrica, o pau-de-arara, contra pessoas amarradas, ou quem lutava, na clandestinidade, contra as forças repressivas? Quem era terrorista: Iara Iavelberg ou Sergio Fleury? Quem estava do lado da Iara ou quem estava do lado do Fleury? Dilma ou Agripino? Quem estava na resistência democrática ou quem, por ação ou por omissão, estava do lado da ditadura do terror?
(Emir Sader)
20/02/2010
A nossa futura presidente!
Eu poderia ter colado só o link aqui, mas fiz questão de postar a íntegra do discurso. Um discurso que deveria ser ouvido (ou lido) por todos os brasileiros. Vamos avante, companheiros, continuar nossa luta de mudar para sempre os rumos desse país.
"O povo! povo! o povo decidiu, agora é a Dilma presidente do Brasil!"
Íntegra do discurso de Dilma Roussef no congresso do PT
(20/02/2010)
Queridas companheiras, Queridos companheiros

Jamais pensei que a vida viesse a me reservar tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo - com humildade, serenidade e confiança.
Neste momento, ouço a voz de Minas Gerais, terra de minha infância e de minha juventude. Dessa Minas que me deu o sentimento de que vale a pena lutar pela liberdade e contra a injustiça. Ouço os versos de Drummond:
"Teus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
Até hoje sinto o peso suave da mão de minha filha, quando nasceu. Que força ela me deu. Quanta vida me transmitiu. Quanta fé na humanidade me passou.
Eram tempos difíceis. Ferida no corpo e na alma, fui acolhida e adotada pelos gaúchos - generosos, solidários, insubmissos, como são os gaúchos. Naqueles anos de chumbo, onde a tirania parecia eterna, encontrei nos versos de outro poeta - Mário Quintana - a força necessária para seguir em frente:
"Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho."
Eles passaram e nós hoje voamos livremente. Voamos porque nascemos para ser livres.
Sem ódio e com serena convicção afirmo que nunca mais viveremos numa gaiola ou numa prisão. Estamos construindo um novo país na democracia. Um país que se reencontrou consigo mesmo. Onde todos expressam livremente suas opiniões e suas idéias. Um país que não tolera mais a injustiça social. Que descobriu que só será grande e forte se for de todos.
Vejo nesta manhã - nos jovens que nos acompanham e nos mais velhos que aqui estão - um extraordinário encontro de gerações. De gerações que, como a minha, levaram nosso compromisso com o país às últimas conseqüências. Amadureci. Amadurecemos todos. Amadureci na vida. No estudo. No trabalho duro. Nas responsabilidades de governo no Rio Grande e aqui. Mas esse amadurecimento não se confunde com conformismo, nem perda de convicções. Não perdemos a indignação frente à desigualdade social, à privação de liberdade, às tentativas de submeter nosso país. Não sucumbimos aos modismos ideológicos. Persistimos em nossas convicções, buscando, a partir delas, construir alternativas concretas e realistas.
Continuamos movidos a sonhos. Acreditando na força do povo brasileiro, em sua capacidade de buscar e construir um mundo melhor. A história recente mostrou que estávamos certos. Tivemos um grande mestre - o Presidente Lula. Ele nos ensinou o caminho.
Em um país com a complexidade e as desigualdades do Brasil, ele foi capaz de nos conduzir pelo caminho de profundas transformações sociais em um clima de paz, de respeito e fortalecimento da democracia.
Não admitimos, portanto, que alguém queira nos dar lições de liberdade. Menos ainda aqueles que não tiveram e não têm compromisso com ela.
Companheiras, Companheiros
Recebo com humildade a missão que vocês estão me confiando. Com humildade, mas com coragem e determinação. Coragem e determinação que vêm do apoio que recebo de meu partido e de seu primeiro militante - o Presidente Lula.
Do apoio que espero ter dos partidos aliados que, com lealdade e competência, também são responsáveis pelos êxitos do nosso Governo. Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um Governo de coalizão.
Estou consciente da extraordinária força que conduziu Lula à Presidência e que deu a nosso Governo o maior respaldo da história de nosso país - a força do povo brasileiro.
A missão que me confiam não é só de um partido ou de um grupo de partidos. Recebo-a como um mandato dos trabalhadores e de seus sindicatos. Dos movimentos sociais. Dos que labutam em nossos campos. Dos profissionais liberais. Dos intelectuais. Dos servidores públicos. Dos empresários comprometidos com o desenvolvimento econômico e social do país. Dos negros. Dos índios. Dos jovens. De todos aqueles que sofrem ainda distintas formas de discriminação. Enfim, das mulheres.
Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos ser a metade da terra também. Com igualdade de direitos, salários e oportunidades. Quero com vocês - mulheres do meu país - abrir novos espaços na vida nacional.
É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que nossa realidade social exige.
Nessa caminhada encontraremos milhões de brasileiros que passaram a ter comida em suas mesas e hoje fazem três refeições por dia. Milhões que mostrarão suas carteiras de trabalho, pois têm agora emprego e melhor renda. Milhões de homens e mulheres com seus arados e tratores cultivando a terra que lhes pertence e de onde nunca mais serão expulsos. Milhões que nos mostrarão suas casas dignas e os refrigeradores, fogões, televisores ou computadores que puderam comprar. Outros milhões acenderão as luzes de suas modestas casas, onde reinava a escuridão ou predominavam os candieiros. E estes milhões de pontos luminosos pelo Brasil a fora serão como uma trilha incandescente que mostra um novo caminho. Nessa caminhada, veremos milhões de jovens mostrando seus diplomas de universidades ou de escolas técnicas com a convicção de quem abriu uma porta para o futuro. Milhões - mas muitos milhões mesmo - expressarão seu orgulho de viver em um país livre, justo e, sobretudo, respeitado em todo o mundo.
Muitos me perguntam porque o Brasil avançou tanto nos últimos anos. Digo que foi porque soubemos construir novos caminhos, derrubando velhos dogmas. O primeiro caminho é o do crescimento com distribuição de renda - o verdadeiro desenvolvimento. Provamos que distribuindo renda é que se cresce. E se cresce de forma mais rápida e sustentável. Essa distribuição de renda permitiu construir um grande mercado de bens de consumo popular. Ele nos protegeu dos efeitos da crise mundial. Criamos 12 milhões de empregos formais. A renda dos trabalhadores aumentou. O salário mínimo real cresceu como nunca. Expandimos o crédito para o conjunto da sociedade. Estamos construindo um Brasil para todos.
O segundo caminho foi o do equilíbrio macro-econômico e da redução da vulnerabilidade externa. Eliminamos as ameaças de volta da inflação. Reduzimos a dívida em relação ao Produto Interno Bruto. Aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões. Multiplicamos por três nosso comércio exterior, praticando uma política externa soberana, que buscou diversificar mercados.
Deixamos de ser devedores internacionais e passamos à condição de credores. Hoje não pedimos dinheiro emprestado ao FMI. É o Fundo que nos pede dinheiro. Grande ironia: os mesmos 14 bilhões de dólares que antes o FMI nos emprestava, agora somos nós que emprestamos ao FMI.
O terceiro caminho foi o da redução das desigualdades regionais. Invertemos nos últimos anos o que parecia uma maldição insuperável. Quando o país crescia, concentrava riqueza nos estados e regiões mais prósperos. Quando estagnava, eram os estados e regiões mais pobres que pagavam a conta.Governantes e setores das elites viam o Norte e o Nordeste como regiões irremediavelmente condenadas ao atraso.A vastos setores da população não restavam outras alternativas que a de afundar na miséria ou migrar para o sul em busca de oportunidades. É o que explica o inchaço das grandes cidades.
Essa situação está mudando. O Governo Federal começou um processo consistente de combate às desigualdades regionais. Passou a ter confiança na capacidade do povo das regiões mais pobres. O Norte e o Nordeste receberam investimentos públicos e privados. O crescimento dessas duas regiões passou a ser sensivelmente superior ao do Brasil como um todo.
Nós vamos aprofundar esse caminho. O Brasil não mais será visto como um trem em que uma única locomotiva puxa todos vagões, como nos tempos da "Maria Fumaça". O Brasil de hoje é como alguns dos modernos trens de alta velocidade, onde vários vagões são como locomotivas e contribuem para que o comboio avance.
O quarto caminho que trilhamos e continuaremos a trilhar é o da reorganização do Estado. Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso. Aqui, o desastre só não foi maior - como em outros países - porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de FURNAS.
Alguns falam todos os dias de "inchaço da máquina estatal". Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as áreas de segurança, controle e fiscalização.
Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos.
Vamos continuar valorizando o servidor e o serviço público. Reconstituindo o Estado. Recompondo sua capacidade de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento do país.
Diante da crise, quando o crédito secou, não sacrificamos os investimentos públicos e privados. Ao contrário, utilizamos nossos bancos para impulsionar o desenvolvimento e a garantia de emprego no País.
Na verdade, quando a crise mundial apenas começava, Lula disse em seu discurso na ONU em 2008:
É chegada a hora da política!
Nada mais apropriado. A maior prova nós demos ao mundo: o Brasil só pôde enfrentar com sucesso a crise porque tivemos políticas públicas adequadas. Soubemos articular corretamente Estado e mercado, porque colocamos o interesse público no centro de nossas preocupações.
O quinto caminho foi o de nossa presença soberana no mundo.
O Brasil não mais se curva diante dos poderosos. Sem bravatas e sem submissão, o país hoje defende seus interesses e se dá ao respeito. É solidário com as nações pobres e em desenvolvimento. Tem uma especial relação com a América do Sul, com a América Latina e com a África. Estreita os laços Sul-Sul, sem abandonar suas relações com os países desenvolvidos. Busca mudar instituições multilaterais obsoletas, que impedem a democratização econômica e política do mundo.
Essa presença global, e o corajoso enfrentamento de nossos problemas domésticos em um marco democrático, explicam o respeito internacional que hoje gozamos.
O sexto caminho para onde convergem todos os demais foi o do aperfeiçoamento democrático.
No passado, tivemos momentos de grande crescimento econômico. Mas faltou democracia. E como faltou!
Em outros momentos tivemos democracia política, mas faltou democracia econômica e social. E sabemos muito bem que quando falta democracia econômica e social, é a democracia como um todo que está ameaçada. O país fica à mercê das soluções de força ou de aventureiros.
Hoje crescemos, distribuindo renda, com equilíbrio macro-econômico, expansão da democracia, forte participação social na definição das políticas públicas e respeito aos Direitos Humanos.
Quem duvidar do vigor da democracia em nosso país que leia, escute ou veja o que dizem livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições - ainda quando mentirosas, injustas e caluniosas - ao silêncio das ditaduras.
Como disse o Presidente Lula, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes. Nela, vai desaparecendo o espaço para que velhos coronéis e senhores tutelem o povo. Este passa a pensar com sua cabeça e a constituir uma nova e verdadeira opinião pública.
As instituições funcionam no país. Os poderes são independentes. A Federação é respeitada. Diferentemente de outros períodos de nossa história, o Presidente relacionou-se de forma republicana com governadores e prefeitos, não fazendo qualquer tipo de discriminação em função de suas filiações partidárias.
Não praticamos casuísmos. Basta ver a reação firme e categórica do Presidente Lula ao frustrar as tentativas de mudar a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos - como se fez no passado - as regras do jogo no meio da partida.
Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce sobre o qual construir o terceiro Governo Democrático e Popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso, nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente.
Queridas companheiras, queridos companheiros.
Não é meu propósito apresentar aqui um Programa de Governo.
Este Congresso aprovou as Diretrizes para um programa que será submetido ao debate com os partidos aliados e com a sociedade.
Hoje quero assumir alguns compromissos como pré-candidata, para estimular nossa reflexão e indicar como pretendemos continuar este processo iniciado há sete anos.
Vamos manter e aprofundar aquilo que é marca do Governo Lula - seu olhar social. Queremos um Brasil para todos. Nos aspectos econômicos e em suas projeções sociais, mas também um Brasil sem discriminações, sem constrangimentos. Ampliaremos e aperfeiçoaremos os programas sociais do Governo Lula, como o Bolsa Família, e implantaremos novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.
Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento e na justiça social. Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso - da creche a pós-graduação.
Os jovens serão os primeiros beneficiários da era de prosperidade que estamos construindo. Nosso objetivo estratégico é oferecer a eles a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e realização pessoal.
No Brasil temos hoje 50 milhões de jovens, entre os 15 e os 29 anos de idade. Mais de um quarto da população brasileira. E eles têm direito a um futuro melhor.
O Brasil precisa muito da juventude. De profissionais qualificados. De mulheres e homens bem formados.
Isto se faz com escolas que propiciem boa formação teórica e técnica, com professores bem treinados e bem remunerados. Com bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola. Com banda larga gratuita para todos, computadores para os professores, salas de aula informatizadas para os estudantes. Com acesso a estágios, cursos de especialização e ajuda para entrar no mercado de trabalho de todo o Brasil.
Serão esses jovens bem formados e preparados que vão nos conduzir à sociedade do conhecimento
Protegeremos as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas, da imposição do trabalho em detrimento da formação escolar e acadêmica.
As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância até a vida adulta, para que possam se realizar, em sua plenitude, como brasileiros.
Um País se mede pelo grau de proteção que dá a suas crianças. São elas a essência do nosso futuro. E é na infância que a desigualdade social cobra seu preço mais alto. Crianças desassistidas do nascimento aos cinco anos serão jovens e adultos prejudicados nas suas aptidões e oportunidades. Cuidar delas adequadamente é combater a desigualdade social na raiz.
Vamos ampliar e disseminar por todo o Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis. Um tipo de creche onde a criança tem acesso a socialização pedagógica, aos bens culturais e aos cuidados de nutrição e saúde indispensáveis a seu pleno desenvolvimento. Isso é o que está previsto no PAC 2.
Vamos resolver os problemas da saúde, pois temos um incomparável modelo institucional - o SUS. Com mais recursos e melhor gestão vamos aprimorar a eficácia do sistema. Vamos reforçar as redes de atenção à saúde e unificar as ações entre os níveis de governo. Darei importância às Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, ao SAMU, aos hospitais públicos e conveniados, aos programas Saúde da Família, Brasil Sorridente e Farmácia Popular.
Vamos cuidar das cidades brasileiras. Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas.
Vamos melhorar a habitação e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente.
Vamos reforçar os programas de segurança pública.
A conclusão do PAC 1 e a implementação do PAC 2, junto com a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida serão decisivos para realizar esse compromisso.
Vamos fortalecer a proteção de nosso meio ambiente. Continuaremos reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo. Vamos manter a vanguarda na produção de biocombustíveis e desenvolver nosso potencial hidrelétrico. Desenvolver sem agredir o meio ambiente, com usinas a fio d'água e utilizando o modelo de usinas-plataforma. Aprofundaremos nosso zoneamento agro-ecológico. Nossas iniciativas explicam a liderança que alcançamos na Conferência sobre a Mudança do Clima, em Copenhague. As metas voluntárias de Copenhague, assumidas pelo Brasil, serão cumpridas, haja ou não acordo internacional. Este é o nosso compromisso.
Vamos aprofundar os avanços já alcançados em nossa política industrial e agrícola, com ênfase na inovação, no aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito, aumentando nossa produtividade.
Agregar valor a nossas riquezas naturais, é fundamental numa política de geração de empregos no País. Tudo que puder ser produzido no Brasil, deve ser - e será - produzido no Brasil. Sondas, plataformas, navios e equipamentos aqui produzidos, para a exploração soberana do Pré-sal, vão gerar emprego e renda para os brasileiros. Emprego e renda que virão também da produção em indústrias brasileiras de fertilizantes, combustíveis e petroquímicos derivados do óleo bruto. Assim, com este modelo soberano e nacional, a exploração do Pré-sal dará diversidade e sofisticação à nossa indústria.
Os recursos do Pré-sal, aplicados no Fundo Social, sustentarão um grande avanço em nossa educação e na pesquisa científica e tecnológica. Recursos que também serão destinados para o combate à pobreza, para a defesa do meio ambiente e para a nossa cultura.
Vamos continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.
Todas as nossas ações de governo têm uma premissa: a preservação da estabilidade macro-econômica.
Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.
Vamos seguir dando transparência aos gastos públicos e aperfeiçoando seus mecanismos de controle.
Vamos combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais, como fizemos até agora.
Vamos concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária.
Vamos aprofundar nossa postura soberana no complexo mundo de hoje. Seremos intransigentes na defesa da paz mundial e de uma ordem econômica e política mais justa.
Enfim, vamos governar para todos. Com diálogo, tolerância e combatendo as desigualdades sociais e regionais.
Companheiras e companheiros,
Faremos na nossa campanha um debate de idéias, com civilidade e respeito à inteligência política dos brasileiros. Um debate voltado para o futuro.
Recebo essa missão especialmente como um mandato das mulheres brasileiras, como mais uma etapa no avanço de nossa participação política e como mais uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta. Gostaria de repetir: quero com vocês, mulheres do meu País, abrir novos espaços na vida nacional.
Queridas amigas e amigos
No limiar de uma nova etapa de minha vida, quando sou chamada à tamanha responsabilidade, penso em todos aqueles que fizeram e fazem parte de minha trajetória pessoal.
Em meus queridos pais.
Em minha filha, meu genro e em meu futuro neto ou neta.
Nos tantos amigos que fiz.
Nos companheiros com quem dividi minha vida.
Mas não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história.
Mais que isso: eles são parte da história do Brasil.
Permitam-me recordar três companheiros que se foram na flor da idade.
Carlos Alberto Soares de Freitas.
Beto, você ia adorar estar aqui conosco.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui entre nós todos.
Iara Yavelberg.
Iara, que falta fazem guerreiras como você.
O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.
A mesma força que vem de meus companheiros de partido, sobretudo daquele que é nosso primeiro companheiro - Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse ato de proclamação de minha candidatura tem uma significação que transcende seu aspecto eleitoral.
Estamos hoje concluindo o Quarto Congresso do Partido dos Trabalhadores.
Mais do que isso: estamos celebrando os Trinta Anos do PT.
Trinta anos desta nova estrela que veio ocupar lugar fundamental no céu da política brasileira.
Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil.
O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso.
Mas não mudou de lado.
Até chegar à Presidência do país, o PT dirigiu cidades e estados da Federação, gerando práticas inovadoras políticas, econômicas e sociais que o mundo observa, admira e muitas vezes reproduz. Fizemos isso, preservando e fortalecendo a democracia.
Mas, a principal inovação que o Partido trouxe para a política brasileira foi colocar o povo - seus interesses, aspirações e esperanças - no centro de suas ações.
Olhando para este magnífico plenário o que vejo é a cara negra, branca, índia e mestiça do povo brasileiro.
Esta é a cara do meu partido.
O rosto daqueles e daquelas que acrescentam a sua jornada de trabalho, uma segunda jornada - ou terceira - a jornada da militância.
Quero dizer a todos vocês que tenho um enorme orgulho de ser petista. De militar no mesmo partido de vocês. De compartilhar com Lula essa militância.
Estou aceitando a honrosa missão que vocês me delegam com tranqüilidade e determinação.
Sei que não estou sozinha.
A tarefa de continuar mudando o Brasil é uma tarefa de milhões. Somos milhões.
Vamos todos juntos, até a vitória.
Viva o povo brasileiro!
18/01/2010
questionário
14/01/2010
Questionário para o Serra
1. Qual sua plataforma para se candidatar à presidência no Brasil? Fala-se muito da sua segunda candidatura, mas nada sobre o que pretenderia fazer, caso chegasse a ganhar.
2. Quem, da equipe econômica de FHC, voltaria ao governo?
3. Sua campanha reivindicará o governo FHC, de que você participou desde o começo até o final, inclusive da equipe econômica? Se não vai reivindicar, quais os erros que esse governo – da mesma aliança que lhe apóia – cometeu?
4. Depois de ter abandonado a presidência da UNE e a prefeitura de São Paulo, vai abandonar de novo um cargo público para o qual se candidatou?
5. Você chegou a cogitar Arruda para seu vice. Não tinha nenhuma idéia dos escândalos? Não considera um erro grave de avaliação?
6. O governo FHC, com sua participação, elevou a taxa de juros ao recorde de 48% no começo de 1999, medida que não foi questionada por você, que agora questiona taxas de juros quase dez vezes menores do que aquela. Estava a favor daquela medida ou , senão estava, por que se calou?
7. Os tucanos paulistas privatizaram o Banespa, venderam para o banco espanhol Santander. Você ia fazer a mesma coisa com a Nossa Caixa, aí chegou o Banco do Brasil e evitou essa privatização. Casso fosse eleito presidente, o que pretende fazer com o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e outras empresas estatais que FHC não conseguiu privatizar no seu governo? E com a Petrobrás?
8. Você critica vários aspectos da política internacional do governo Lula. Quem seria teu Ministro de Relações Exteriores? Celso Lafer? Luis Felipe Lampreia? Retomará a proposta de Tratados de Livre Comércio com os EUA, no lugar da integração regional?
9. Quem seriam teus aliados regionais, no lugar dos aliados atuais do Brasil: a Colômbia de Uribe, o México de Calderón, o Chile – eventualmente – de Piñera?
10. Que privilégios voltará a ter a FSP (Força Serra Presidente), com quem você tem relações carnais?
11. O que aconteceria com o PAC, se fosse eleito presidente?
Postado por Emir Sader às 05:52 no blog dele
13/12/2009
Era uma vez um país...
Para quem já viu, vale se emocionar de novo.
Programa no PT que foi ao ar no último dia 10/12
Clique aqui para ver.
11/12/2009
Caindo máscaras
Sempre achei estranho, porque com todas as pessoas com as quais conversei por lá, nenhuma me deu versão parecida com o que ela relata todos os dias...
É sempre bom ter acesso a dois lados da mesma história.
A blogueira Yoani e suas contradições
Frei Betto
O mundo soube que, a 7 de novembro último, a blogueira cubana Yoani Sánchez teria sido golpeada nas ruas de Havana. Segundo relato dela, “jogaram-me dentro de um carro... arranquei um papel que um deles levava e o levei à boca. Fui golpeada para devolver o documento. Dentro do carro estava Orlando (marido dela), imobilizado por uma chave de karatê... Golpearam-me nos rins e na cabeça para que eu devolvesse o papel... Nos largaram na rua... Uma mulher se aproximou: “O que aconteceu?” “Um sequestro”, respondi. (www.desdecuba.com/generaciony )
Três dias depois do ocorrido nas ruas da Havana, Yoani Sánchez recebeu em sua casa a imprensa estrangeira. Fernando Ravsberg, da BBC, notou que, apesar de todas as torturas descritas por ela, “não havia hematomas, marcas ou cicatrizes” (BBC Mundo, 9/11/2009). O que foi confirmado pelas imagens da CNN. A France Press divulgou que ela “não foi ferida.”
Na entrevista à BBC, Yoani Sánchez declarou que as marcas e hematomas haviam desaparecido (em apenas 48 horas), exceto as das nádegas, “que lamentavelmente não posso mostrar”. Ora, por que, no mesmo dia do suposto sequestro, não mostrou por seu blog, repleto de fotos, as que afirmou ter em outras partes do corpo?
Havia divulgado que a agressão ocorreu à luz do dia, diante de um ponto de ônibus “cheio de gente.” Os correspondentes estrangeiros em Cuba não encontraram até hoje uma única testemunha. E o marido dela se recusou a falar à imprensa.
O suposto ataque à blogueira cubana mereceu mais destaque na mídia que uma centena de assassinatos, desaparecimentos e atos de violência da ditadura hondurenha de Roberto Micheletti, desde 27 de junho.
Yoani Sánchez nasceu em 1975, formou-se em filologia em 2000 e, dois anos depois, “diante do desencanto e a asfixia econômica em Cuba”, como registra no blog, mudou-se para a Suíça em companhia do filho Téo. Ali trabalhou em editoras e deu aulas de espanhol.
Em 2004, abandonou o paraíso suíço para retornar a Cuba, que qualifica de “imensa prisão com muros ideológicos”. Afirma que o fez por motivos familiares. Quem lê o blog fica estarrecido com o inferno cubano descrito por ela. Apesar disso, voltou.
Não poderia ter assegurado um futuro melhor ao filho na Suíça? Por que regressou contra a vontade da mãe? “Minha mãe se recusou a admitir que sua filha já não vivia na Suíça de leite e chocolate” (blog dela, 14/08/2007).
Na verdade, o caso de Yoani Sánchez não é isolado. Inúmeros cubanos exilados retornam ao país após se defrontarem com as dificuldades de adaptação ao estrangeiro, os preconceitos contra mulatos e negros, a barreira do idioma, a falta de empregos. Sabem que, apesar das dificuldades pelas quais o país atravessa, em Cuba haverão de ter casa, comida, educação e atenção médica gratuitas, e segurança, pois os índices de criminalidade ali são ínfimos comparados ao resto da América Latina.
O que Yoani Sánchez não revela em seu blog é que, na Suíça, implorou aos diplomatas cubanos o direito de retornar, pois não encontrara trabalho estável. E sabe que em Cuba ela pode dedicar tempo integral ao blog, pois é dos raros países do mundo em que desempregado não passa fome nem mora ao relento...
O curioso é que ela jamais exibiu em seu blog as crianças de rua que perambulam por Havana, os mendigos jogados nas calçadas, as famílias miseráveis debaixo dos viadutos... Nem ela nem os correspondentes estrangeiros, e nem mesmo os turistas que visitam a Ilha. Porque lá não existem.
Se há tanta falta de liberdade em Cuba, como Yoani Sánchez consegue, lá de dentro, emitir tamanhas críticas? Não se diz que em Cuba tudo é controlado, inclusive o acesso à internet?
Detalhe: o nicho Generación Y de Sánchez é altamente sofisticado, com entradas para Facebook e Twitter. Recebe 14 milhões de visitas por mês e está disponível em 18 idiomas! Nem o Departamento de Estado do EUA dispõe de tanta variedade linguística. Quem paga os tradutores no exterior? Quem financia o alto custo do fluxo de 14 milhões de acessos?
Yoani Sánchez tem todo o direito de criticar Cuba e o governo do seu país. Mas só os ingênuos acreditam que se trata de uma simples blogueira. Nem sequer é vítima da segurança ou da Justiça cubanas. Por isso, inventou a história das agressões. Insiste para que suas mentiras se tornem realidades.
A resistência de Cuba ao bloqueio usamericano, à queda da União Soviética, ao boicote de parte da mídia ocidental, incomoda, e muito. Sobretudo quando se sabe que voluntários cubanos estão em mais de 70 países atuando, sobretudo, como médicos e professores.
O capitalismo, que exclui 4 bilhões de seres humanos de seus benefícios básicos, não é mesmo capaz de suportar o fato de 11 milhões de habitantes de um país pobre viverem com dignidade e se sentirem espelhados no saudável e alegre Buena Vista Social Club.
*Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
07/11/2009
Lula lá
ANNE WARTH E CAROLINA FREITAS - Agencia Estado
SÃO PAULO - O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, atribuiu as críticas que recebeu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) na última semana ao "ódio" do tucano em relação a seu governo. "Eu compreendo o ódio que isso causa. Um intelectual ficar assistindo um operário que só tem o 4º ano primário ganhar tudo o que ele imaginava que iria ganhar e não ganhou por incompetência é muito difícil", disse ele, interrompido por palmas e um coro de "Olê Olê Olê Olá Lula" de mais de 800 pessoas que assistiam à abertura do 12º Congresso do PCdoB, no Palácio das Convenções do Anhembi, na zona norte da capital paulista.
O petista revidou também o ataque do compositor Caetano Veloso, que chamou Lula de "analfabeto" em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. "Essa semana foi engraçada. Eu fui chamado de analfabeto, de ditador, por ter indicado a Dilma (Rousseff, ministra da Casa Civil) pelo ''dedaço'' e ganhei o título de estadista do ano", discursou Lula, em referência ao prêmio Chatham House 2009, que recebeu em Londres por seu empenho nas relações internacionais na América Latina.
O presidente ironizou o fato de não ter a "sapiência dos sociólogos", em uma referência à formação de Fernando Henrique, e dissociou a inteligência do saber acadêmico. "Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você teve. Não tem nada mais burro que isso. A universidade te dá conhecimento. Inteligência é outra coisa."
Para o petista, na política, vale mais a inteligência do que o conhecimento. "Muito mais", enfatizou. "A inteligência de saber formar uma equipe não está no livro. Está na sensibilidade. A inteligência de tomar decisões não está no livro. Está no caráter e no compromisso do dirigente."
Lula comparou Fernando Henrique a um jogador de futebol que fica no banco de reservas torcendo para que um titular se machuque para poder entrar em campo. "Fernando Henrique tinha certeza de que nós seríamos um fracasso e de que ele poderia voltar por conta do meu fracasso", disse. "É isso que magoa. Eu lamento. O mundo não deveria ser assim."
Apesar de mostrar-se incomodado com as críticas do ex-presidente tucano, Lula tentou contemporizar: "A vida é assim. A pessoa fala o que quer, ouve o que não quer. A vida é dura." Ele disse ainda não guardar rancor em relação aos ataques. "Não sou homem de carregar mágoas por mais de cinco minutos. O mandato não permite que a gente fique brigando por coisas secundárias."
Hitler
O presidente afirmou sentir "pena" dos tucanos por eles planejarem um programa de treinamento de cabos eleitorais no Nordeste do Brasil com vistas às eleições de 2010. "É um pouco o que o Hitler fazia, para que os alemães pegassem os judeus. Ou seja, vamos treinar gente para não permitir que eles sobrevivam", disse ele, em referência ao ditador nazista alemão, Adolf Hitler.
Para Lula, a estratégia do PSDB no Nordeste não vai funcionar. "Eles vão encontrar lá gente do PCdoB, PT, PDT, PSB, CUT (Central Única dos Trabalhadores) e todas as centrais, MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e movimento popular. Acho que vão se dar um pouco mal."
Eleições
Último a falar, após duas horas de discursos de parlamentares e ministros, Lula deu sequencia ao clima de palanque petista do evento. Possível candidata do PT à Presidência em 2010, Dilma foi saudada pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), como "futura presidenta do Brasil".
Em tom de conclamação, Lula alertou para o risco de retrocessos caso seja eleito no próximo ano um presidente que não Dilma. "Quem é prefeito ou governador sabe bem que um estranho no ninho pode desmontar em apenas dois anos tudo o que foi feito. E não venham dizer que o movimento popular não deixa por que é bobagem."
O pleito de 2010 será o primeiro em décadas do qual Lula não participará como candidato. "Tenho uma certa tristeza. Essa vai ser a primeira eleição para presidente da República em que meu nome não vai estar na cédula. Na minha cabeça vai ter um vazio", brincou. "Por isso, depois dele (Lula), (vem) a Dilma, para poder consagrar a continuidade de um projeto."
05/11/2009
um asno pastando à solta na sociedade brasileira
Dessa vez o motivo da insônia foi uma matéria que li no estadão e que me irritou profundamente. A entrevista do Caetano Veloso. Entre outras "pérolas", a que mais me irritou e me indignou profundamente foi o desrespeito ao presidente da república. Transcrevo aqui o trecho inteiro:
"Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro".
Veja bem meu caro artista auto-intitulado intelectual, que eu saiba o presidente não é analfabeto. Que eu saiba ele fala muito bem - é respeitado mundo afora pela articulação e pela desenvoltura com que transita em todos os ambientes (pela primeira vez na história desse país, como ele mesmo gosta de dizer, já que os presidentes anteriores não só não eram ouvidos - como o Lula é - como nem sequer eram recebidos por ninguém: vide aquele caso em que o FHC ficou que nem idiota esperando na antesala do FMI e mandaram um mensageiro despachá-lo sem ser atendido).
"Analfabeto", o Lula? "Não sabe falar"? Pergunte a todos que estudam, trabalham, lecionam em universidades federais o que o Lula, o analfabeto, fez pelo ensino público superior no Brasil. A maior expansão da história. Sim, logo ele, o Lula analfabeto, investindo nas universidades federais que o catedrático antecessor passou 8 anos sucateando e tratando como lixo (cuspindo no prato que comeu! formou-se e trabalhou em universidades públicas e depois quis acabar com elas).
"Grosseiro", o Lula? Que eu saiba ele nunca foi grosseiro com qualquer pessoa a quem se dirigiu - mesmo quando julgássemos que ele teria razões para sê-lo, debaixo de saraivadas de críticas desconstrutivas, desrespeitosas e preconceituosas como a sua: críticas vindas de gente que tem ódio de Lula só porque ele é um operário que chegou ao poder e fez o melhor governo que esse país já teve. "Grosseiro" é você, que vai ao jornal desrespeitar o presidente da república. Ora, vá plantar batatas!
E o pior é o Estadão falar que "uma sabedoria subiu à cabeça do artista" (!!!)
Sabe o que parece? Que o Caetano nunca conseguiu engolir a enorme dor de cotovelo que ele tem até hoje pelo fato de ter sido o Gilberto Gil a ser escolhido pelo Lula como o Ministro da Cultura. Acho sinceramente que o Caetano deveria ter morrido lá pelos anos 70 (talvez 80, pouco antes de compor a música "Luz de Tieta") assim teríamos um ícone, um artista de quem gostaríamos e nos orgulharíamos até hoje. Seria ótimo ter o nome dele em Bibliotecas, Teatros, pracinhas da periferia. Imagina um busto de bronze, em tamanho natural, com a letra de "Podres Poderes" numa plaquinha? Seria bárbaro. Um orgulho nacional. É tipo o Maradona, sabe? Que deveria ter parado a carreira no auge, assim como fez Pelé, e seria respeitado até hoje ao invés de andar por aí fazendo as merdas que faz.
E pra falar nos verdadeiros grandes artistas - que realmente engrandecem a imagem do Brasil e cumprem seu papel e por isso mereceriam ter mais espaço na mídia do que esses babacas falastrões - termino oferecendo ao Caetano uma música do Chico Buarque, que ele jura que não fez pro FHC (mas eu juro que não acredito) e que serviria certinho pro Lula responder ao Caetano, na maior elegância - como é seu estilo:
(Observe, Caetano, que a música é de 1998. Nessa época você já tinha perdido completamente sua capacidade de compositor, já tinha começado a regravar músicas do Peninha, enquanto o Chico... Ah, o Chico! É como o vinho! Está cada vez melhor - acho até que a Rita Lee se equivocou ao escolher o "Muso" pra música "Homem Vinho". Acho que ao ver as merdas todas que você faz e fala ela deve se arrepender de não ter feito a música pro Chico)
Injuriado
Chico Buarque/1998
Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim
Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim