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15/07/2012

Alcoviteira

"A poesia aproxima palavras que não se cumprimentavam. Palavras ranzinzas, que nunca conversavam no dicionário. Quanto mais diferentes, mais a união produz barulho e o efeito desejado de surpreender. Ela gosta mesmo de casar. Perfeito: a poesia é uma agência de casamento entre os vocábulos".
Fabrício Carpinejar


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28/03/2012

Falou e disse

Texto irretocável. Concordo em gênero, número e grau. Enjoy! ‘Da fala ao grunhido’, de Ferreira Gullar Publicado na Folha de SP do dia 25/03/2012 Desconfio que, depois de desfrutar durante quase toda a vida da fama de rebelde, estou sendo tido, por certa gente, como conservador e reacionário. Não ligo para isso e até me divirto, lembrando a célebre frase de Millôr Fernandes, segundo o qual “todo mundo começa Rimbaud e acaba Olegário Mariano”. Divirto-me porque sei que a coisa é mais complicada do que parece e, fiel ao que sempre fui, não aceito nada sem antes pesar e examinar. Hoje é comum ser a favor de tudo o que, ontem, era contestado. Por exemplo, quando ser de esquerda dava cadeia, só alguns poucos assumiam essa posição; já agora, quando dá até emprego, todo mundo se diz de esquerda. De minha parte, pouco se me dá se o que afirmo merece essa ou aquela qualificação, pois o que me importa é se é correto e verdadeiro. Posso estar errado ou certo, claro, mas não por conveniência. Está, portanto, implícito que não me considero dono da verdade, que nem sempre tenho razão porque há questões complexas demais para meu entendimento. Por isso, às vezes, se não concordo, fico em dúvida, a me perguntar se estou certo ou não. Cito um exemplo. Outro dia, ouvi um professor de português afirmar que, em matéria de idioma, não existe certo nem errado, ou seja, tudo está certo. Tanto faz dizer “nós vamos” como “nós vai”. Ouço isso e penso: que sujeito bacana, tão modesto que é capaz de sugerir que seu saber de nada vale. Mas logo me indago: será que ele pensa isso mesmo ou está posando de bacana, de avançadinho? E se faço essa pergunta é porque me parece incongruente alguém cuja profissão é ensinar o idioma afirmar que não há erros. Se está certo dizer “dois mais dois é cinco”, então a regra gramatical, que determina a concordância do verbo com o sujeito, não vale. E, se não vale essa nem nenhuma outra ─ uma vez que tudo está certo ─, não há por que ensinar a língua. A conclusão inevitável é que o professor deveria mudar de profissão porque, se acredita que as regras não valem, não há o que ensinar. Mas esse vale-tudo é só no campo do idioma, não se adota nos demais campos do conhecimento. Não vejo um professor de medicina afirmando que a tuberculose não é doença, mas um modo diferente de saúde, e que o melhor para o pulmão é fumar charutos. É verdade que ninguém morre por falar errado, mas, certamente, dizendo “nós vai” e desconhecendo as normas da língua, nunca entrará para a universidade, como entrou o nosso professor. Devo concluir que gente pobre tem mesmo que falar errado, não estudar, não conhecer ciência e literatura? Ou isso é uma espécie de democratismo que confunde opinião crítica com preconceito? As minorias, que eram injustamente discriminadas no passado, agora estão acima do bem e do mal. Discordar disso é preconceituoso e reacionário. E, assim como para essa gente avançada não existe certo nem errado, não posso estranhar que a locutora da televisão diga “as milhares de pessoas” ou “estudou sobre as questões” ou “debateu sobre as alternativas” em vez de “os milhares de pessoas”, “estudou as questões” e “debateu as alternativas”. A palavra “sobre” virou uma mania dos locutores de televisão, que a usam como regência de todos os verbos e em todas as ocasiões imagináveis. Sei muito bem que a língua muda com o passar do tempo e que, por isso mesmo, o português de hoje não é igual ao de Camões e nem mesmo ao de Machado de Assis, bem mais próximo de nós. Uma coisa, porém, é usar certas palavras com significados diferentes, construir frases de outro modo ou mudar a regência de certos verbos. Coisa muito distinta é falar contra a lógica natural do idioma ou simplesmente cometer erros gramaticais primários. Mas a impressão que tenho é de que estou malhando em ferro frio. De que adianta escrever essas coisas que escrevo aqui se a televisão continuará a difundir a fala errada cem vezes por hora para milhões de telespectadores? Pode o leitor alegar que a época é outra, mais dinâmica, e que a globalização tende a misturar as línguas como nunca ocorreu antes. Isso de falar correto é coisa velha, e o que importa é que as pessoas se entendam, ainda que apenas grunhindo.

22/03/2011

a língua

'Segredo' de linguista, revelado com exclusividade para você, que dorme no ponto: para aprender uma língua estrangeira, você tem que se forçar a estar em contato com ela. Veja filmes, ouça músicas, veja tevê, leia revistas na língua alvo. Coloque seu orkut para falar com você na língua almejada.
Você vai ver o milagre acontecer diante de seus olhos.

15/07/2010

EdUFSCar promove exposição de livros das áreas de Linguística e Linguagem na próxima semana

Entre os dias 21 e 23 de julho, a EdUFSCar realiza uma exposição de livros voltados para as áreas de Linguística e Linguagem. A exposição faz parte do 58º Seminário do Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo (GEL) que será sediado na UFSCar, no mesmo período. Durante os dias do evento haverá estande com obras de diversas editoras, como Cortez, Vozes, Paz e Terra, Martins Fontes, Cengage Learning e das editoras vinculadas à Associação Brasileira das Editoras Universitárias. A comercialização de livros será das 8 às 18 horas, na área externa da Livraria da EdUFSCar, localizada na área Norte do campus São Carlos. No primeiro dia da exposição também será realizado o lançamento do livro "Escutar o invisível", escrito por Eduardo Calil, da Editora da Unesp, às 18h30.
O 58º Seminário do GEL tem o objetivo de divulgar e compartilhar informações científicas e contribuir para o desenvolvimento da pesquisa linguística. A programação completa está disponível no site www.gel.org.br. Mais informações sobre a exposição podem ser obtidas pelo telefone (16) 3351-9621.

23/11/2009

Show da Língua portuguesa!

Mais uma dessas coisas realmente legais que de vez em quando rodam pela internet.
Recebi da minha irmã Roberta.


Show da língua portuguesa!

'Um homem rico estava muito mal, agonizando. Pediu papel e caneta. Escreveu assim:

'Deixo meus bens a minha irmã não a meu sobrinho jamais será paga a conta do padeiro nada dou aos pobres. '

Morreu antes de fazer a pontuação. A quem deixava a fortuna? Eram quatro concorrentes.

1) O sobrinho fez a seguinte pontuação:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

2) A irmã chegou em seguida. Pontuou assim o escrito:

Deixo meus bens à minha irmã. Não a meu sobrinho. Jamais será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

3) O padeiro pediu cópia do original. Puxou a brasa pra sardinha dele:

Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro. Nada dou aos pobres.

4) Aí, chegaram os descamisados da cidade. Um deles, sabido, fez esta interpretação:


Deixo meus bens à minha irmã? Não! A meu sobrinho? Jamais! Será paga a conta do padeiro? Nada! Dou aos pobres.

Moral da história:
'A vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos sua pontuação.
E isso faz toda a diferença... '

11/11/2009

viaja pouco esse Bakhtin

Fala a verdade... Deve ter alguém que mereça, mas eu não mereço! Plena quarta-feira à noite vem o cidadão falar o seguinte:
"A regularidade social objetiva da criação ideológica, quando indevidamente interpretada como estando em conformidade com as leis da consciência individual, deve, inevitavelmente, ser excluída de seu verdadeiro lugar na existência e transportada quer para o empíreo supra-existencial do transcendentalismo, quer para os recônditos pré-sociais do organismo psicofisiológico, biológico".
(Bakhtin em "Marxismo e Filosofia da Linguagem", cap. 1)

Entendeu? Não? Bem vindo a bordo! hahaha

27/08/2009

Sobre a Vírgula

Pra quem acha (e, acreditem, tem quem ache!!) que é só 'frescura' usar a vírgula corretamente, preste bem atenção.
 
 
Sobre a Vírgula

Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa).



Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.

Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto...

Ela pode ser a solução.

Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.

Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.


ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Detalhes Adicionais


SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM. 






 
 

16/01/2009

Acordo Ortográfico

Segue link do Especial sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, publicado na revista eletrônica "Linguasagem", publicação eletrônica de popularização científica em Ciências da Linguagem produzida pelo Departamento de Letras e pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSCar
http://www.letras.ufscar.br/linguasagem/edicao04/menuacordo.php

01/10/2008

A revista Graphos, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal da
Paraíba, recebe até o dia 30 de novembro artigos para a edição a ser lançada em
fevereiro de 2009. O tema desta edição, que sairá nas versões impressa e eletrônica,
é "Literatura e música popular: cumplicidades poéticas". O volume terá dossiê
organizado por Armador Ribeiro Neto e Luiz Antonio Mousinho.
A revista Graphos publica, desde o ano de 1996, artigos inéditos de autores
brasileiros ou estrangeiros. Em 2004, ela passou a ter periodicidade semestral. A
publicação envolve estudos de caráter teórico ou aplicado, nas áreas de "Literatura
e Cultura" e "Linguagens e Cultura". A Graphos publica também resenhas, entrevistas
e notas bibliográficas. As regras para a formatação do texto e outras informações
sobre a revista podem ser obtidas no endereço: http://www.revistagraphos.com.br.

11/07/2008

Ariano Suassuna

Eu fiquei pensando em mil coisas pra escrever no meu blog depois de ter tido o privilégio de assistir à reinauguração do Teatro Municipal, semana passada, com a aula-espetáculo de Ariano Suassuna...
Pensei tanto que acabei não escrevendo nada, mesmo porque cheguei à conclusão de que não poderia expressar em palavras a emoção e a riqueza do espetáculo: somente quem esteve lá para saber como foi.
Hoje, ao deparar-me com a matéria da Prefeitura que vai à imprensa local no final de semana, resolvi transcrever alguns trechos, simplesmente pelo registro. E também como forma de deixar pra sempre meu agradecimento a todos que me proporcionaram a oportunidade singular de ver o espetáculo maravilhoso, de respirar o mesmo ar que o mestre Ariano, sem dúvida uma Lenda Viva da cultura brasileira... Um patrimônio a ser preservado sempre!
Aí vai:


Programação inovadora do Teatro Municipal convida para a reflexão

Ariano Suassuna, Cena 11 Cia. de Dança e Art Metal Quinteto, cada qual na sua expressão artística, interagem com a platéia e provocam novos questionamentos

Após a solenidade oficial de reinauguração do Teatro Municipal “Dr. Alderico Vieira Perdigão”, realizada na sexta-feira (4), que contou com a presença de autoridades e representantes do cenário teatral, artistas e comunidade, o palco abriu suas cortinas para a literatura bem-humorada de Ariano Suassuna nos dias 5 e 6. Na seqüência da programação especial, patrocinada pela Petrobras, Cena 11 Cia. de Dança, nos dias 7 e 8, e Art Metal Quinteto, nos dias 9 e 10 de julho de 2008.
A diretora do Departamento de Artes e Cultura, Telma Olivieri, aponta critérios que contribuíram para a escolha da programação de abertura. Juntamente com o assessor cultural Almir Martins, debruçaram-se sobre dezenas de propostas altamente diversificadas. “O Teatro Municipal ficou fechado por cinco anos e gostaríamos de optar por uma programação que representasse a política cultural de São Carlos, a diversidade das expressões artísticas de forma a incluir teatro, dança e música, e estivesse compatível com a expectativa da cidade, habituada a apreciar propostas inovadoras e de qualidade”, recorda Telma.
Suassuna percorreu 2.600 km aos 81 anos para presentear o público são-carlense com uma verdadeira aula de brasilidade. Em sua aula-espetáculo, esteve acompanhado de Inez Viana e do Grupo Gesta de Música Armorial e convidou a platéia para refletir sobre a cultura brasileira e o idioma português. Irreverente e bem-humorado, o autor de “O Auto da Compadecida” e de “O Santo e a Porca”, suas peças mais conhecidas, convidou um público bastante diverso para um mergulho na cultura brasileira, com muita música de qualidade e humor.
O ator Almir Martins, desde fevereiro de 2007 como assessor cultural do Departamento de Artes e Cultura, encampou de corpo e alma a reabertura do Teatro Municipal e demais projetos da área, como a Tenda Móvel de Teatro. Para ele, a escolha de Ariano Suassuna e demais espetáculos levou ao palco uma programação adequada à magnitude do evento. “O Teatro Municipal teve sua primeira inauguração com Cacilda Becker na peça ‘Esperando Godot’, de Samuel Beckett, em 1969, por isso precisávamos ser cuidadosos nesse momento”, ressalta Martins.


Registro na história – A diretora do projeto Contribuinte da Cultura e membro do Conselho Municipal de Cultura de São Carlos (CMCSC), Fatima Camargo Catalano, assistiu à solenidade e à aula-espetáculo de Suassuna. “Tenho certeza de que todos que estiveram presentes saíram muito felizes, primeiro por assistir a um espetáculo que enche a alma da gente de alegria e em segundo pela reabertura do Teatro Municipal”, comenta.
“A escolha de Ariano Suassuna não poderia ser melhor para ficar registrada na história da cidade e do Teatro Municipal. Foi uma decisão muito acertada”, diz Fatima. Ela acredita que a presença de Suassuna mostrou o que muitos procuravam. “Termos a oportunidade de tê-lo em nossa cidade por duas noites, naquele formato, ele (Ariano) conversando com as pessoas. Acho que é o que todos sonhavam, ver o teatro em atividade da forma como voltou. Deixou o caminho aberto com chave de ouro. A gente saiu revigorada!”, finaliza a diretora do projeto Contribuintes da Cultura.
(...)

Momentos de bastidores – Algumas cenas reservadas para quem esteve a trabalhar nos bastidores do Teatro Municipal marcam o respeito dedicado por Ariano Suassuna às artes e ao nosso idioma. Antes mesmo de ser homenageado pelo prefeito municipal de São Carlos, Suassuna foi procurado por Almir Martins para autografar o livro “O auto da Compadecida” para Dom Paulo Sérgio Machado, Bispo Diocesano de São Carlos. Curioso foi observar o produtor de Ariano retornando com o livro e a pergunta: “Ariano quer saber se é Sérgio com acento ou sem acento” e a resposta de Martins, na seqüência: “É com acento”.
Da coxia, Suassuna acompanhou, atento, a homenagem prestada ao ator e diretor de teatro Névio Dias, representante de toda a classe artística teatral de São Carlos. Quando Dias saiu de cena, Ariano adiantou-se e o abraçou, com a reverência e respeito de quem sabe o valor daqueles que se dedicam às artes no Brasil

26/06/2008

a mídia e o Governo Lula

Por que o governo Lula perdeu a batalha da comunicação
E como a Globo definiu a narrativa dominante e única da crise do mensalão. A central de Brasília, dizem jornalistas que trabalharam no sistema Globo, formou uma espécie de "gabinete de crise" com líderes da oposição do qual faziam parte ACM Neto e Paes de Andrade. Fechar a Radiobrás foi o ato síntese de todos os grandes erros na política da comunicação do governo Lula. A análise é de Bernardo Kucinski.

Bernardo Kucinski - Agência Carta Maior

A mídia na era Lula deixou de funcionar como mediadora da política, passando a atuar diretamente como um partido político de oposição. Apesar de disputarem agressivamente o mercado entre si, há mais unidade programática hoje entre os veículos da mídia oligárquica do que no interior de qualquer partido político brasileiro, até mesmo partidos ideológicos como o PT e o PSOL. Todos os grandes veículos, sem exceção, apóiam as privatizações, a contenção dos gastos públicos, a redução de impostos; a obtenção de um maior superávit primário, a adesão do Brasil à ALCA; todos são críticos à criação de um fundo soberano, ao controle na entrada de capitais, ao Bolsa Família, à política de cotas nas universidades para negros, índios e alunos oriundos da escola pública, à entrada de Venezuela no Mercosul e ao próprio Mercosul. Todos criticam o governo sistematicamente, em todas as frentes da administração, faça o governo o que fizer ou deixar de fazer.

Na campanha da grande imprensa que levou Vargas ao suicídio, o governo ainda contava com o apoio da poderosa cadeia nacional de jornais Última Hora. Hoje, não há exceção entre os grandes jornais. Outra diferença desta vez é a adesão ampla de jornalistas à postura de oposição, e sua disseminação por todos os gêneros jornalísticos tornando-se uma sub-cultura profissional. Emulada por editores, prestigiada por jornalistas bem sucedidos e comandada pelos intelectuais orgânicos das redações, os colunistas, essa sub-cultura é dotada de um modo narrativo e jargão próprios.

Em contraste com o jornalismo clássico, que trabalha com assertivas verazes para esclarecer fatos concretos, sua narrativa não tem o objetivo de esclarecer e sim o de convencer o leitor de determinada acusação, usando como fio condutores seqüências de ilações. É ao mesmo tempo grosseira na omissão inescrupulosa de fatos que poderiam criar outras narrativas , e sofisticada na forma maliciosa como manipula falas, datas e números. O enunciador dessa narrativa conhece os bastidores do poder e não precisar provar suas assertivas. VEJA acusou o PT de receber dinheiro de Cuba, admitindo na própria narrativa não ter provas de que isso tenha acontecido. Em outra ocasião, justificou a acusação alegando não haver nenhuma prova de que aquilo não havia acontecido.

Trata-se de uma sub-cultura agressiva. Chegam a atacar colegas jornalistas que a ela se recusaram a aderir , criando nas redações um ambiente adverso a nuances de interpretação ou divergências de análise. O meta-sentido construído por essa narrativa é o de que o governo Lula é o mais corrupto da história do Brasil, é incompetente, trapalhão, só tem alto índice de aprovação porque o povo é ignorante ou se deixa levar pelo bolso, não pela cabeça.

Levantam como principal bandeira o repúdio à corrupção. Mas como quase todo o moralismo em política, trata-se de mais uma modalidade de falso moralismo: é o "moralismo dirigido" que denuncia os " mensaleiros do PT" e deixa pra lá o valerioduto dos tucanos, onde tudo de fato começou, e mais recentemente o escândalo do Detran de Yeda Crusius, no Rio Grande do Sul onde tudo continua. É " moralismo instrumental", que visa menos o restabelecimento da ética e mais a destruição do PT e do petismo.

O que poucos sabem é que essa sub-cultura se tornou dominante graças a uma mãozinha da Globo. Quando foi revelada em fevereiro de 2004 a propina recebida dois anos antes por Waldomiro Diniz, sub-chefe da assessoria parlamentar da Casa Civil do governo Lula, a Globo vislumbrou a oportunidade de uma ofensiva de caráter estratégico: cortar o barato do petismo e de sua ameaça de governar o Brasil por 40 anos. Com esse objetivo, mudou o modus operandi do seu jornalismo político. Logo depois das denúncias de Roberto Jefferson, criou uma central de operações, em Brasília, unificando as coberturas de política da TV, CBN e jornal O Globo sob o comando de Ali Kamel, que para isso se deslocou para Brasília.

Em quase todas as campanhas eleitorais os grandes jornais criam uma instância adicional de decisão sob o comando de alguem de confiança da casa, que passa a centralizar toda a cobertura política. A central coordenada por Ali Kamel em Brasília reflete essa passagem de um jornalismo normal para um jornalismo de campanha, apesar de não estar em curso uma campanha eleitoral.

A central de Brasília, dizem jornalistas que trabalharam no sistema Globo, formou uma espécie de "gabinete de crise" com líderes da oposição do qual faziam parte ACM Neto e Paes de Andrade, pautando-os e por eles se pautando. Vários jornalistas faziam parte da operação, cada um encarregado de uma "fonte" da oposição. Tinham a ordem de repercutir junto àquela fonte, todos os dias, falas e acusações, matérias do dia anterior, entrevistando sempre os mesmos protagonistas: Heloísa Helena, ACM Neto, Gabeira , Onix Lorenzoni. No dia seguinte, os jornais davam essas falas em manchete, como se fosse fatos. Assim surgiu todo um processo de construção de um relato da crise destinado a se tornar a narrativa dominante e única.

A VEJA lançara sua própria operação de objetivos estratégicos muito antes. Entre 2003 e 2006, VEJA produziu 50 capas contra Lula , sendo 18 delas consecutivas.

Quando surgiu a fita de Waldomiro Diniz, a revista revelou esse objetivo em ato falho : "Os ares em torno do Palácio tinham na semana passada sabor de fim de governo."

Na Globo, a operação encontrou resistências internas de jornalistas que ainda lambiam as feridas provocadas pelo falseamento do debate Collor- Lula, e da cobertura da campanha das Diretas Já. Deu-se então a marginalização de Franklin Martins da cobertura política. Esse afastamento teve grande importância porque institui no corpo de jornalistas a sensação de insegurança e o medo, necessários para a imposição da nova ordem. "Sua saída foi um baque", avaliou Luiz Nassif em entrevista a Forum.

Com o vazamento de informações sobre o clima interno de intolerância, em especial uma reportagem de Raimundo Pereira em Carta Capital, e matérias críticas em blogs e no site Carta Maior, a cúpula jornalística da empresa mandou circular um manifesto cobrando lealdade à casa. Três jornalistas que se recusaram a assinar foram expurgados.

Da Globo o expurgo respingou a outros veículos da grande imprensa. O último capítulo desse processo foi a não renovação do mandato do Ombudsman da Folha, Mário Magalhães por criticar na internet a forma como a Folha reportou o vazamento dos gastos do governo FHC com cartões corporativos. Apontou falta de transparência por não indicarem as fontes da acusação de que Dilma Roussef foi a mandante, e a falha de não ouvir os causados. No caminho também perdeu seu espaço Paulo Henrique Amorim. Mino Carta, em solidariedade, desligou-se do IG.

Na campanha contra Getúlio a sobre-determinante era a guerra-fria, que desqualificava o nacionalismo e as demandas sindicais como meros instrumentos do comunismo. Hoje a sobre-determinante é o neoliberalismo que desqualifica opções de política econômica em nome de uma verdade única à qual é atribuído o monopólio da eficácia. A unanimidade anti-Lula da grande mídia só tem paralelo na unanimidade pró-neoliberal dessa mesma mídia.

Mas temos um paradoxo. O governo Lula tem mantido religiosamente seu acordo estratégico com o capital financeiro, que é o setor dominante hoje no capitalismo mundial e brasileiro. E apesar do vasto leque de políticas públicas de apoio aos pobres, não brigou com nenhum dos outros grupos de interesses do grande capital. Por que então tanta hostilidade da mídia? É como se a grande mídia agisse por conta própria, pouco ligando para a dupla capital financeiro-capital agrário e na qual se apóia.

É uma mídia governista, ou "áulica", na adjetivação de Nelson Werneck Sodré, quando o governo faz o jogo da dependência, como foram os governos de Dutra, Café Filho, Jânio Quadros e Fernando Henrique. E anti-governista, quando os governos são portadores de projetos de autonomia nacional, como foram os governos de Getúlio, Juscelino, que rompeu com o FMI, Jango e agora o de Lula.

Uma mídia que já nasceu neoliberal, muito antes do neoliberalismo se impor como ideologia dominante e organizativa das políticas públicas. Nunca aceitaram o Estado que chamam pejorativamente de "populista". Em artigo recente na Folha, Bresser Pereira associou diretamente o discurso da mídia contra o populismo e sua inclinação pelo golpe à nossa extrema pobreza e polarização de renda. "Como a apropriação do excedente econômico não se realiza principalmente por meio do mercado mas do Estado, a probabilidade de que facções das elites recorram ao golpe de Estado quando se sentem ameaçadas é sempre grande." Diz ainda que nossas elites "estão quase sempre associadas às potências externas e às suas elites." Daí, diz ele "O que vemos na imprensa, além de ameaças de golpe é o julgamento negativo dos seus governantes..."

A incompatibilidade entre governos populares portadores de projetos nacionais e a mídia oligárquica é de tal ordem que muitos desses governantes tiveram que jogar o mesmo jogo do autoritarismo, para dela se proteger. Getulio criou a Hora do Brasil como programa informativo de rádio para defender a revolução tenentista contra a oligarquia ainda em 1934, quando o regime era democrático, fundado na Constituição de 34. No Estado Novo foi ao extremo de instituir a censura previa através criando o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). No seu retorno democrático, estimulou Samuel Wainer a criar sua cadeia Última Hora.

Estas reflexões, se têm algum fundamento, mostram como foi equivocada a política de comunicação do governo Lula, a começar por não atribuir à comunicação e às relações com a mídia o mesmo peso estratégico que atribuiu às suas relações com a banca internacional. Nem sequer havia um comando único para a comunicação, que sofreu um processo de feudalização. Só na presidência, três feudos disputavam espaço: a Secom, o Gabinete do Porta-Voz e Assessoria de Imprensa. Fora dela, dois ministérios definiam políticas públicas na esfera da comunicação: Ministério das Comunicações e Ministério da Cultura.

Propostas longamente discutidas ainda no âmbito dos grupos de jornalistas do PT, e pelos funcionários da Radiobrás, não foram sequer discutidas. Nesse vazio, o único grande aparelho de comunicação social do governo, o sistema Radiobrás acabou embarcando numa política editorial chamada de "comunicação cidadã", que tinha como preocupação fundamental e explícita a de dissociar-se do governo do dia. O que é pior: despojava a Radiobrás de sua atribuição formal de sistema estatal de comunicação. Isso num momento histórico que exigia, ao contrário, reforçar o sistema estatal de comunicação.

Pouco experiente em jornalismo político, a equipe não conseguiu resolver de forma criativa a contradição entre fazer um jornalismo veraz de qualidade e politicamente relevante, e ser ao mesmo tempo um serviço estatal de comunicação. Com definições opacas, que nada acrescentavam ao que se entende por jornalismo, acabaram desenvolvendo um jornalismo de tipo alternativo, parecido ao que fazem as ongs e movimentos sociais.

A importante mudança do papel da Radiobras nunca foi discutida no Conselho da Radiobrás. O corpo da Radiobrás chegou a se entusiasmar com a idéia sempre simpática a jornalistas, mas simplória, de deixar de ser "chapa-branca", mas acabou não havendo muita harmonia entre a nova direção e as bases. Uma apregoada "gestão participativa", ficou mais no papel do que na prática.

Em minucioso relatório sobre as conquistas da Radiobrás perto do final do primeiro mandato, o presidente do Conselho enumerou os muitos avanços técnicos, mas apontou que a Radiobrás havia criado uma outra missão e outro papel para si, sem discutir essas mudanças previamente com o próprio governo. Também apontou ser falso o debate que contrapõe comunicação de caráter oficial com o direito do cidadão à boa informação.

Mais equivocada ainda foi a proposta de acabar com a obrigatoriedade da Voz do Brasil, formulada pela direção da Radiobrás logo no primeiro ano do mandato de Lula, a partir dos conceitos neoliberais de que o Estado não faz parte da esfera pública e a liberdade de imprensa do baronato da mídia é a própria liberdade de imprensa. A Radiobrás chegou a co-patrocinar no anexo II da Câmara dos Deputados, junto com os Mesquitas, um seminário para apoiar a flexibilização da Voz do Brasil.

Essa mesma visão ingênua levou a Radiobrás a adotar como sua e como se fosse a única possível, a narrativa da grande imprensa na grande crise do mensalão, que como vimos foi em grande parte articulada entre o sistema Globo e a oposição. Embora só hoje se saibam alguns detalhes dessa operação, as forçadas de barra no noticiário e nas manchetes eram discerníveis a qualquer jornalista experiente.

Naquele momento, a Radiobrás era o único sistema de comunicação social capaz de criar uma narrativa realmente independente da crise, que sem ser chapa branca também não fosse submissa à articulação comandada pela Globo. Mas quando veio a crise, seu projeto editorial entrou em parafuso. Mais do que isso: a crise traumatizou a direção da empresa que viu ruir a bandeira ética do PT, sob a qual muitos deles cresceram, formaram-se e criaram sua identidade pública. Só um estado catatônico poderia explicar o fato da Radiobrás dar ao vivo e na íntegra o depoimento de Roberto Jefferson de junho de 2005 como se quisesse se colocar à frente do sistema Globo. No momento crucial da crise cortou um discurso de Lula em Luziania, o que nem a Globo fez.

Foi a fase em que manchetes da Agência Brasil rivalizavam com as da grande imprensa na espetacularização da crise e na disseminação de noticias infundadas. Entre essas manchetes está a acusação nunca comprovada do dia de renuncia de Zé Dirceu (16/06/05) : "Ex-agente do SNI diz que Casa Civil está envolvida nas provas dos correios". E a noticia falsa de que "Miro Teixeira confirmou as acusações de Jeffersson", dada no mesmo dia 21/06/05 em que até a grande imprensa admitia que Miro Teixeira não havia confirmado essas acusações. Mesmo sem atentar para a dimensão política desse tipo de noticiário, sua fragilidade era incompatível com o padrão que se espera de uma comunicação de Estado.

Outras manchetes meramente reproduziam falas de líderes da oposição: "Nada poderá restringir nosso trabalho na CPI", diz líder do PFL (17/056/05) ou "PFL e PSDB alegam que PT violou legislação (22/06/05). A Radiobrás, sem perceber, havia entrado no esquema orquestrado por Ali Kamel. Naquele momento nascia o processo de colonização da comunicação de governo e do Estado pelo ideário liberal-conservador , que acabou levando ao fechamento intempestivo da própria Radiobrás.

Fechar a Radiobrás foi o ato síntese de todos os grandes erros na política da comunicação do governo Lula. Ademais, ao fechar a Radiobrás o governo violou a Constituição que manda coexistirem os três sistemas; púbico, privado e estatal. E não é à toa que a Constituinte cidadã assim decidiu. Como sabemos, diversas vezes a grande mídia latino-americana apoiou golpes de Estado, algo inimaginável nas democracias dos países centrais. Ter um sistema estatal de comunicação minimamente funcional , com credibilidade e legitimidade junto à população é uma espécie de apólice de seguro contra golpes de Estado.

O governo lidou com a comunicação como se a nossa democracia fosse igualzinha à democracia americana. Mas o que vale para os Estados Unidos da América pode não valer para o Brasil. O Estado americano não tem uma Radiobrás ou uma Voz do Brasil porque nunca sofreu um golpe midiático, mas tem a Voice of America para defender seus interesses imperiais. O Estado brasileiro não contempla interesses imperiais, mas precisa se defender do golpismo e das pressões externas sobre a Amazônia. Por isso precisa de uma Radiobrás e de uma Voz do Brasil.

17/03/2008

Domínio público


Que tal ler a obra completa de Machado de Assis, Joaquim Nabuco ou Fernando Pessoa? Ou viajar pela obra de William Shakespeare (em Português)? Quem sabe pesquisar Teses e Dissertações da CAPES? Ou obras de arte, dos grandes mestres da pintura e escultura? Ou ainda baixar música erudita? Tudo DE GRAÇA.
Tá tudo no site do Governo Federal, em uma Biblioteca Digital com obras de domínio público elaborada em software livre.
Vale a pena!
O link está aqui.
Bom divertimento!

25/02/2008

Trocando uma maçaneta

É sempre bom lembrar... (Recebi por email do meu amigo Ingmar, que SEMPRE me manda emails interessantes.)


A Reforma Ortográfica - uma bagunça organizada!

A partir de 2008 deverá entrar em vigor a reforma ortográfica que torna a língua portuguesa um idioma único em todo o mundo.

Reforma = Bagunça
Mas, nesse caso, a Língua Portuguesa não vai quebrar paredes ou trocar pisos e deixar você sem chão. As mudanças na língua equivalem a uma troca de maçaneta. Elas afetam menos de 2% do português falado no Brasil. Portanto, não é difícil conhecê-las para estarmos preparados quando a reforma for oficialmente aplicada.

removendo os parafusos...
a TREMA deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados.
conseqüência → consequência
Müller


o HÍFEN* não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começar com s ou r, ao invés do hífen essas letras serão duplicadas.
anti-semita → antissemita
contra-regra → contrarregra

Exceção: só não muda quando os primeiros elementos terminam com r.
hiper-requintado
inter-resistente
super-revista


2. quando o primeiro elemento termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.
extra-escolar → extraescolar
auto-estrada → autoestrada


o ACENTO CIRCUNFLEXO não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados.
Crêem → creem
vêem → veem
dêem → deem
lêem → leem


2. em palavras terminadas em hiato "oo".
enjôo → enjoo
vôo → voo


o ACENTO AGUDO não se usará mais:
1. em palavras terminadas em "eia" e "oia".
assembléia → assembleia
idéia → ideia
jibóia → jiboia
heróica → heroica


2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo.
feiúra → feiura
viúva → viuva


3. nos poucos verbos em que há "u" tônico depois de "g" ou "q"e antes de "e" ou "i".
averigúe (averiguar) → averigue
argúem (arg(ü/u)ir) → arguem
apazigúe (apaziguar) → apazigue


parafusos novos...
o ALFABETO passará a ter 26 letras.
a b c d f g h i j K l m n o p q r s t u v W x Y z

Para que a Reforma Ortográfica não lhe pegue desprevenido, mantenha essa ferramenta de consulta sempre à mão.
E, para poder ter sucesso sempre que puser mãos à obra com a Língua Portuguesa não deixe de visitar o site da Scritta, no qual você encontra um rico conteúdo sempre atualizado sobre o assunto.

30/10/2007

Última flor do Lácio

Momento educativo-cultural do blog.
Afinal de contas relembrar e aprender nunca é demais!

Enjoy!




De boca aberta

Afinal, como se fala Roraima, recorde e gratuito?
A estranheza surge principalmente quando as moças do tempo anunciam as previsões do dia seguinte: vai fazer sol em “Roráima”. Ou será em “Rorãima”?
Até algumas décadas atrás, parecia não haver dúvida: era “Rorãima” que se aprendia na escola e se pronunciava em quase todo o Brasil.
A partir de determinado momento, no entanto, as autoridades e a população roraimense passaram a seguir a prática dos índios da região. Os macuxis, taurepangues, ianomâmis e uapixanas, principais tribos do norte do país, chamam a região de “Roráima”, com som aberto, por terem impossibilidade de articular sons nasais.
É um fenômeno semelhante ao de algumas partes do Brasil em que, por influência indígena, se diz, por exemplo, “gránde”, em vez de grande, “bacána”, em vez de bacana, “bánána”, em vez de banana etc.
Como essa pronúncia não é a do restante do país, cria-se uma falsa impressão de “erro”, quando o que se tem são meras variações.
Ex-correspondente do jornal O Estado de S. Paulo em Boa Vista, o jornalista Plínio Vicente informa que os professores Dorval Magalhães e José Ferreira pesquisaram o assunto, e seus estudos dos costumes indígenas locais foram decisivos para a adoção, no estado, da pronúncia “Roráima”. Chegou-se até a cogitar, na Assembléia Legislativa roraimense, a votação de uma lei que oficializasse essa maneira de falar.
Como proceder, então? Do ponto de vista formal do idioma, a pronúncia “Rorãima” parece ser a predominante, mesmo porque na língua portuguesa as vogais que antecedem m e n adquirem, normalmente, o som nasal dessas consoantes. É o que ocorre em andaime (“andãime”), paina (“pãina”), Bocaina (“Bocãina”), Rifaina (“Rifãina”), polaina (“polãina”), plaina (“plãina”), comezaina (“comezãina”), Elaine (“Elãine”) etc.
O dicionário Houaiss não se define sobre o assunto, mas observa: “No início do século 20, a pronúncia ainda alternava Roraíma/Rorãima/Roráima”. Já o Aurélio, no verbete “roraimense”, toma partido e inclui, entre parênteses, a indicação ãi.
De qualquer maneira, é preciso levar em conta a respeitável opinião do filólogo Evanildo Bechara, da Academia Brasileira de Letras. Para ele, a presença de m ou n na sílaba seguinte pode ou não nasalar as vogais anteriores, o que autoriza tanto a forma “Roráima” como “Rorãima”. A conclusão é a de que quem quiser seguir a tendência regional pode falar em “Roráima”. E quem ficar com a preferência nacional deve dizer “Rorãima”.
Seria bom se esse fosse o único problema do gênero no idioma. As pessoas que acompanham o noticiário da TV e do rádio, porém, podem, com toda a justiça, hesitar entre as pronúncias “recórde” e “récorde”. Vale lembrar, no caso, que a palavra, originária do latim, consolidou-se no francês (recorder) e foi importada pelo inglês, idioma no qual sofreu aclimatação. Por isso, não há nada a estranhar que se diga “récorde” em inglês e “recórde”, como os dicionários registram, em português.
Um pouco diferente é o caso de quatro vocábulos terminados em uito na língua portuguesa. Por mais que se ouçam “gratuíto” e “gratuítamente” até nos anúncios oficiais, não há engano possível: é gratuito e gratuitamente (“úi”) que se deve enunciar. Mas nem sempre os desvios de pronúncia são tão facilmente explicáveis. Por exemplo, “biótipo” virou “biotipo” na linguagem popular, enquanto outras palavras da família são, por exemplo, “protótipo” e “estereótipo”. A oscilação de pronúncia já aparece em monotipo, fenotipo, genotipo e logotipo, alternativas populares das eruditas fenótipo, genótipo, logótipo e monótipo. Só para concluir: o gás, para você, é “neon” ou “néon”? O Aurélio só registra a grafia tradicional, néon, mas o Houaiss e o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras já autorizam o uso de neon. Menos mal para nós que os dicionários também se atualizem. ©

Autor: Eduardo Martins (Jornalista, autor do "Manual de Redação e Estilo", de "O Estado de São Paulo", e dos "Resumões de Língua Portuguesa", entre outros livros)

Texto publicado na Revista da Cultura - edição 02 - setembro de 2007

18/04/2007

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa


Alfabeto passa a ter 26 letras

Está para entrar em vigor a unificação da Língua Portuguesa que prevê, entre outras coisas, um alfabeto de 26 letras.

"A frequência com que eles leem no voo é heroica!".

Ao que tudo indica, a frase inicial desse texto possui pelo menos quatro erros de ortografia. Mas até o final do ano, quando deve entrar em vigor o "Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa", ela estará corretíssima.
Os países-irmãos Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, terão, enfim, uma única forma de escrever.

As mudanças só vão acontecer porque três dos oito membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), ratificaram as
regras gramaticais do documento proposto em 1990.
Brasil e Cabo Verde já haviam assinado o acordo e esperavam a terceira adesão, que veio no final do ano passado, em novembro, por São Tomé e Príncipe.

Tão logo as regras sejam incorporadas ao idioma, inicia-se o período de transição, no qual ministérios da educação, associações e
academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos recebam as novas regras ortográficas e possam, gradativamente, reimprimir livros, dicionários, etc.

O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol.
A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais.
Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros.

Com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado.
No Brasil, a mudança será bem menor:
0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão
conservadas as pronúncias típicas de cada país.

O que muda:

*** As novas normas ortográficas farão com que os portugueses, por exemplo, deixem de escrever "húmido" para escrever "úmido".

*** Também desaparecem da língua escrita, em Portugal, o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como por exemplo, nas palavras "acção", "acto", "adopção", "baptismo", "óptimo" e "Egipto".

Mas também os brasileiros terão que se acostumar com algumas mudanças que, a priori, parecem estranhas.

*** As paroxítonas terminadas em "o" duplo, por exemplo, não terão mais acento circunflexo.
Ao invés de "abençôo", "enjôo" ou "vôo", os brasileiros terão que escrever "abençoo", "enjoo" e "voo".

*** Também não se usará mais o acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos:
"crer", "dar", "ler", "ver" e seus decorrentes, ficando correta a grafia:
"creem", "deem", "leem" e "veem".

*** O trema desaparece completamente.
Estará correto escrever "linguiça", sequência", "frequência" e "quinquênio" ao invés de:
lingüiça, seqüência, freqüência e qüinqüênio.

*** O alfabeto deixa de ter 23 letras para ter 26, com a incorporação do "k", do "w" e do "y".

*** O acento deixará de ser usado para diferenciar "pára" (verbo) de "para" (preposição).

Outras duas mudanças:

*** Criação de alguns casos de dupla grafia para fazer diferenciação, como o uso do acento agudo na primeira pessoa do plural do pretérito perfeito dos verbos da primeira conjugação, tais como:
"louvámos" em oposição a "louvamos" e "amámos" em oposição a "amamos".

*** A eliminação do acento agudo nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como:
"assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia".


Antônio Houaiss

A escrita padronizada para todos os usuários do português foi um estandarte de Antônio Houaiss, um dos grandes homens de letras do Brasil contemporâneo, falecido em março de 1999.
O filólogo considerava importante que todos os países lusófonos tivessem uma mesma ortografia.
No seu livro "Sugestões para uma política da língua", Antônio Houaiss defendia a essência de embasamentos comuns na variedade do português falado no Brasil e em Portugal.

Fontes para comentar o assunto:

** William Roberto Cereja - Mestre em Teoria Literária pela USP, Doutor em Lingüística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Professor graduado em Português e Lingüística e licenciado em Português pelo ensino em São Paulo e autor de obras didáticas.

** Marcia Paganini Cavéquia - Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa; Inglês e Literaturas de Língua Inglesa pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Metodologia da Ação Docente pela UEL, Palestrante e consultora de escolas particulares e secretarias de educação de diversos municípios e autora de livros didáticos.

** Cassia Garcia de Souza - Professora graduada em Português e Literaturas de Língua Portuguesa, pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), Pós-graduada em Língua Portuguesa pela UEL, Palestrante e organizadora de cursos para professores da rede de ensino, Assessora pedagógica e autora de livros didáticos.