17/11/2012

Educar para a vida real

Não entendo essas pessoas que têm filhos e têm preguiça de educá-los.
A criatura cresce fazendo tudo que quer.
E os pais, abobados, correndo atrás do pequeno monstro. Fazendo todas as suas vontades. Furtando-se ao "trabalho" de ensinar o que pode e o que não pode. Rindo de suas malcriações, relevando seus pequenos atos de indisciplina - que com o tempo vão aumentando e fugindo cada vez mais do aceitável.
Acham que estão fazendo uma grande coisa, mas são alvo de piada de qualquer pessoa com um mínimo de bom senso que esteja por perto. E, muito pior: esses pais serão vítimas dessas crianças, que crescerão indisciplinadas sob essa permissividade toda e tornar-se-ão jovens indomáveis, agressivos, desrespeitosos. Desprezíveis. Muitos desses jovens usarão drogas, desrespeitarão os mais velhos, farão com que seus pais se envergonhem deles. Tudo porque terão crescido sem a menor noção de limite.
Quando esses pais perceberem, o tempo terá passado rápido, e eles terão falhado em sua missão de educadores. Certamente culparão alguém - a escola, o filho do vizinho, a televisão, a sociedade, Deus, o destino? - mas a verdade é que, por mais difícil que seja admitir isso, a culpa será sempre deles e de ninguém mais.
Conheci certa vez um menino de 8 anos, que se comportava como um bebezão mimado. O pai o achava o supra-sumo da inteligência - como aliás a maioria dos pais têm a tendência de enxergar seus filhos - mas o fato é que, com 8 anos, o menino não era capaz de tomar banho sozinho, nem de se secar e de se vestir sozinho após o banho, nem de se limpar sozinho após fazer cocô. Quando tomava um sorvete, sujava todo o rosto, o nariz, a roupa. Era incapaz de comer ou beber alguma coisa até o final: sempre deixava pela metade a sua porção porque sabia que o pai cuidaria de consumir a sobra. E por isso não tinha a menor noção de quanto colocar de comida em seu prato, quando ia se servir. Enchia um prato maior do que qualquer adulto seria capaz de consumir. Comia uma colherada e deixava o resto de comida para o paspalho do pai terminar. O mesmo com uma lata de refrigerante. O mesmo com um pote de iogurte. Isso com 8 anos de idade.
Era evidente que os pais desse menino o superprotegiam. Era evidente que ele não era nenhum supra-sumo da inteligência, pois fazia o mesmo que qualquer criança de sua idade faria. Com o diferencial de ser mais infantilizado e mais mal educado do que a média.
Era irritante ter de conviver com tanta falta de educação, de bons modos, de preparo para a vida real.
A impressão que eu tinha é que aquela criança estava sendo criada dentro de um mundo de mentirinha, uma bolha cor-de-rosa que só existia ao redor dela, criada pelos pais dela - que na verdade deveriam ser as pessoas a criá-la para a vida de verdade.
Felizmente perdi o contato com essa criança e com seus pais. Imagino que hoje ela já deva estar na pré-adolescência. Será que já aprendeu a limpar o próprio traseiro após ir ao banheiro? Será que já teve vontade de experimentar crack - afinal, sempre foi acostumada a fazer e ter tudo que tivesse vontade - ou usar outras drogas?
Enfim, lembrei-me dessa triste história porque infelizmente tenho visto pais e mães cometerem esse mesmíssimo erro com outras crianças. E isso é muito triste.
Eu gostaria que todos tivessem a oportunidade de aprender com erros alheios, sem precisar repeti-los. Mas infelizmente algumas pessoas só aprendem da forma mais dolorida: com seus próprios erros.
Que doa pouco.
E que não doa tarde demais.
A sociedade agradece.

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