05/11/2012

O pior cego é aquele que não quer ver

Já escrevi aqui e em outros lugares (até eu mesma já me cansei de ler isso, de tanto que já repeti!!): eu raramente me lembro de meus sonhos depois de despertar deles.
Isso de não me lembrar pode ser bem frustrante pra mim, pois por vezes sonho coisas absolutamente deliciosas envolvendo outras pessoas, acordo no meio da noite e penso "putz, preciso contar isso amanhã pro fulano!", mas aí, na ânsia de continuar o sonho bom (sim, eu consigo continuar um sonho depois de uma breve interrupção!) não anoto nada e ele cai no mais cruel esquecimento: não há o que fazer para tentar recobrar com alguma fidelidade aquilo que sonhei.
Mas ocorre - mesmo que raramente - de eu me lembrar de detalhes dos sonhos. E isso pode ser tão gratificante (quando o sonho é bom), quanto cruel (quando o sonho é tão bom que dói lembrar dele por saber ser impossível realizá-lo). Pode ainda ser preocupante, que é o caso do ocorrido após o sonho que tive noite passada, e do qual me lembro dos detalhes mais importantes, para meu desespero.
Lembro-me de no meu sonho estar em casa, com alguém conhecido. Era uma mulher, não me lembro se uma das minhas irmãs ou uma de minhas amigas. O fato é que eu mostrava a ela uma coisa que eu descobrira ao me olhar no espelho: uma camada esbranquiçada, parecida com uma lente opaca, me cobria parte dos dois olhos. Metade de cada olho estava totalmente coberta. Era como se eu estivesse ficando cega (como se cada um dos meus dois olhos estivesse "morrendo") mas ao mesmo tempo eu não sentia nada na vista: nem dor, nem ardência, nem embaçamento ou distorção das imagens observadas. Eu enxergava tudo com perfeição e era exatamente por esse paradoxo que eu conversava com essa outra pessoa enquanto minha mãe não chegava, pra eu poder mostrar a ela. Eu não estava nervosa, nem tensa. Só surpresa.
E a minha mãe nunca chegou, antes do sonho terminar.
E eu também não tive tempo de procurar um médico ou algum tipo de ajuda. Não houve piora do quadro, eu continuei enxergando normalmente até terminar o sonho. Foi só aquela sensação estranha de saber que algo estava muito errado, mas não saber o que era.
O sentimento depois de acordar, e durante todo o dia, foi péssimo.
O que seria de mim se eu de repente ficasse cega?
E se a minha mãe não viesse? Com quem eu poderia contar?
De repente percebi o quão pouco agradeço a Deus por ter meus olhos em plena saúde: olhos bonitos e saudáveis com os quais nem sempre olho para coisas importantes. Nem sempre reparo, por exemplo, como é bom ter a presença forte de minha mãe, sempre ao meu lado. Presença muitas vezes silenciosa, por ela ser como eu pouco falante, mas firme e constante. Um porto seguro.
Resolvi procurar pelo significado do sonho no livro dos sonhos. As respostas que encontrei interpretavam cegueira e cego como várias coisas, mas a que mais me chamou a atenção foi "morte de pessoa próxima nos próximos dias". Claro, isso me fez sentir ainda pior. Se alguém de meu convívio próximo me faltar nos próximos dias, terei eu feito minha parte, cuidando com que essa pessoa saiba o quanto ela é importante na minha vida? Ou terei ficado perdendo tempo precioso dando atenção a coisas sem a menor importância, em nome de vaidade, banalidades cotidianas, orgulho...?
Passei o dia pensando sobre tudo isso e sobre outras coisas que essa reflexão toda proporcionou.
No final fiquei com a sensação de que, diante da brevidade da vida, estou agradecendo pouco a Deus e a todos à minha volta por tudo que sou.
Também estou deixando a desejar quanto a doar o melhor de mim aos que me rodeiam.
Estou insatisfeita comigo, por saber que certamente muitos que eu amo estão insatisfeitos comigo.
Às vezes é preciso se imaginar cego para conseguir enxergar certas coisas.

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