10/02/2009

Destinos opostos

Dois jovens. Na mesma cidade. Destinos opostos. Por que?

Hoje conheci uma menina de 17 anos, no toalete da Reitoria da UFSCar, toda pintada de guache e cheia de sonhos: acabara de matricular-se no curso de graduação em Ciência da Computação da UFSCar. Curso cobiçadíssimo e disputadíssimo. Prestou vestibular pela primeira vez, no terceiro ano do ensino médio, e foi aprovada em primeira chamada. Estava com a mãe e uma irmã. A preocupação maior dela era com a tinta que estava no cabelo, estava com vergonha de sair na rua daquele jeito. Convenci-a de que isso faz parte da comemoração e que certamente ninguém acharia feia aquela aparência pintada na rua. "Pelo contrário, é um outdoor da sua conquista", considerei. Ela sorriu. Preveni-a de que quando se iniciarem as aulas ela será novamente colorida pelos veteranos. Ela voltou a sorrir. Uma criança! A preocupação da mãe era porque a filha, com apenas 17 anos, ainda espera o resultado do vestibular da USP, pra se decidir em qual dos dois cursos vai seguir. "Ela é tão nova... A gente fica em dúvida... E se tiver que morar sozinha?". Me perguntaram sobre a UFSCar, sobre as pessoas, sobre as perspectivas profissionais de quem se forma nesse curso... Fiquei emocionada, desejei parabéns e boa sorte.

Lembrei do outro jovem, esse de 18 anos que hoje pela manhã era uma das principais notícias em todos os jornais, rádios e sites de notícias de São Carlos. O jovem de 18 anos que ontem à noite foi preso pela polícia por ter assaltado - com mais 3 - o Bispo Diocesano de São Carlos. Na prisão já foi identificado como participante de outros 4 crimes similares. Durante a ocorrência que ficou famosa - porque fez vítima uma das maiores autoridades da cidade - teve requintes de crueldade. Obrigou o Bispo a ajoelhar-se a seus pés, fez com que ele andasse de joelhos por toda a casa, perguntou se havia na geladeira "algo sagrado" para comer. Manteve a vítima refém durante duas intermináveis horas, sob a mira do revólver - agora sabe-se: revólver de brinquedo. Uma criança! Não cursará uma graduação da UFSCar. Não se preocupará com a tinta no cabelo, nem em ter que optar entre várias opções de cursos "top de linha" do Brasil. Provavelmente aprenderá, na detenção, coisas piores do que as que já sabe. Uma vida inteirinha perdida. Uma barbaridade.

Eu fiquei pensando nesses jovens. Nas diferenças entre as vidas deles. Me deu um nó na garganta. Será que os sonhos deles são tão diferentes? Duvido. Acho que os sonhos deles são muito parecidos. Parecidos com os sonhos de milhões de jovens dessa mesma idade, em todo o mundo. E é realmente uma pena que os destinos sejam opostos.

2 comentários:

claude disse...

Seu texto foi brilhante e me tocou imensamente. Li e reli muitas vezes.Obrigada pelo presente.
Cláudia.

Anônimo disse...

que texto lindo, R~e.. vc escreve muito bem. adorei as palavras ditas de maneira tão sensíveis. te amo, minha linda...