13/02/2011

Desculpa aí, por eu ter nascido!

Vivemos numa sociedade machista, preconceituosa e hipócrita. Isso é fato. Aliás, fato tão notório que já se transformou em um chavão, de tanto que as pessoas já repetiram isso.
Mas o que ainda me choca e me entristece - além de saber desse fato -, é perceber o quanto o machismo ainda está dentro da cabeça das mulheres. Considero bem mais fácil de aceitar (mesmo não concordando, claro!) quando se vê uma atitude machista em um homem. Quando vem de uma mulher, em pleno ano 2011, é o ó.
Uma mulher não pode ter amigos homens. Está vetado, proibido, descartado. Simples assim.
E se ela for solteira e minimamente bonita, então? E se os amigos homens forem casados, então? Bom, daí, à vista das machistinhas de plantão, trata-se praticamente de um crime inafiançável.
E se a mulher for divertida, inteligente, sem frescuras, uma companhia agradável para os seus amigos? Vamos jogar a talzinha aos leões, para ser devorada em praça pública.
Não importa se a mulher em questão - a que teima em ter amigos independentemente do gênero -, não importa se ela nunca desrespeitou ninguém, se ela é amável com todos - com as esposas dos amigos, também, claro! - e se ela é uma profissional séria e centrada: Não, não, não!! Se ela tem amigo homem e casado (ainda mais se esses amigos convivem com ela no emprego!), ela é certamente uma puta querendo estragar o casamento do pobre fulano (e da 'pobrezinha' esposa, que se considera tão mal-amada e inferior, que é capaz de ficar disparando esses despautérios sem perceber o quanto está sendo machista e ridícula).
Está decretado: cada mulher só pode ter amiguinhas mulherzinhas, com as quais deve trocar receitas de pudim e conversar sobre novelas, de preferência dentro de casa, para evitar que eventualmente alguma das amigas mulherzinhas chame a atenção de algum homem casado e indefeso que porventura esteja no mesmo barzinho que ela, que isso cause uma atração irresistível e a moça (puta que é, como todas as mulheres) destrua um casamento, assim, numa mesa de boteco...
Me poupe, me economize.
Isso me fere profundamente, porque eu ainda teimo em acreditar nas pessoas, na sua evolução enquanto gente. Quando essas ondas de ignorância me atingem, eu ainda me abalo, embora saiba que não adianta em nada eu me abalar.
Viver entre catedráticos - entre pessoas consideradas a nata intelectual do país - não nos priva, infelizmente, de passar por esses desconfortos.
Talvez eu espere demais das pessoas, bem mais do que elas podem oferecer - mas eu juro que espero tão pouco! - mas tenho esperança de que um dia eu aprendo. Ah, se aprendo!