14/11/2011

A linguagem e seus porquês

Minha cabeça de linguista (por mais que eu não faça questão de sê-lo!) ficou refletindo sobre esse poema por longos 20 minutos.
Tudo que merece 20 minutos de reflexão, merece ser recortado e colado em um lugar seguro, onde se possa voltar para rever, eventualmente.

RAZÕES ADICIONAIS PARA OS POETAS MENTIREM
(Hans Magnus Enzensberger)
tradução: Kusrt Scharf e Armindo Trevisan

Porque o momento
no qual a palavra feliz
é pronunciada,
jamais é o momento feliz.
Porque quem morre de sede
não pronuncia sua sede
Porque na boca da classe operária
não existe a palavra classe operária.
Porque quem desespera
não tem vontade de dizer:
“Sou um desesperado”.
Porque orgasmo e orgasmo
não são conciliáveis.
Porque o moribundo em vez de alegar:
“Estou morrendo”
só deixa perceber um ruído surdo
que não compreendemos.
Porque são os vivos
que chateiam os mortos
com suas notícias catastróficas.
Porque as palavras chegam tarde demais,
ou cedo demais
Porque, portanto, é sempre um outro,
sempre um outro
quem fala por aí,
e porque aquele
do qual se fala
se cala.


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