09/04/2007

Um brinde à amizade!


O Vinicius tem um "Soneto do Amigo", que a maioria das pessoas conhece e já se utilizou dele.

Quantas vezes, ao mandar um email, um cartão ou uma carta a um(a) amigo(a), na falta de uma inspiração própria não lançamos mão desse texto tão bem escrito. Nada demais, como disse Neruda: "A poesia não é de quem a faz, mas sim de quem precisa dela". Esse texto é assim, ideal para homenagens: breve e objetivo, de leitura fácil e que exprime muito bem o sentimento da amizade.

Neste final de semana que passou, tive um desses reencontros que nos deixam leves.

Inajá, uma amiga da época do Álvaro Guião (idos de 1990 a 1993, veja bem, quanto tempo faz isso!! "Dá tempo da teia de aranha crescer", de ter uma guerra mundial, de acontecer um monte de outras coisas!) pois ela esteve aqui em São Carlos visitando os pais e nós saímos para um chopp juntamente com a Ré, outra amiga de décadas - mas essa, por sorte, bem mais presente e freqüente em minha vida. A companhia das duas, agradabilíssima de fato, me fez lembrar de imediato dos versos do poema. Ficaram me martelando, esses versos, o domingo todo, por isso resolvi colocá-los aqui.

Incrível como a conversa com a Inajá fluiu naturalmente, de modo a nos fazer ter a impressão de que nunca estivemos distantes - e foram muitos anos sem notícias, cada qual cuidando de sua vida.

Esse tipo de coisa me faz ter a certeza de que nada que plantamos é em vão. Quando se dedica uma boa amizade em um terreno que é fértil, dia ou outro ela retornará... Num sábado em que a grande maioria dos amigos presentes desisitiram do programa em cima da hora, num dia em que eu tinha tido uma decepçãozinha à tarde, com uma pessoa que obviamente não me acrescenta nada - mas que eu teimo em continuar mantendo por perto - lá estava ela, Inajá, firme e forte, sorrindo e com a maior disposição de ser uma companhia agradável, como se esses quase 15 anos de separação não passassem de um mês de férias.

Seja bem-vinda de volta, amiga.

Tenho certeza de que passaremos novamente por muita coisa boa juntas. Agora ambas mais maduras, mas com a mesma sincronia de almas de outrora. E agregaremos outras amizades sinceras das quais vale mesmo a pena se valer, como é o caso da Ré, que não cansa nunca das minhas baboseiras e está sempre por perto pra me ouvir.

Diante de fatos como esse, nem esquento a cabeça com as decepções que tenho, no campo de amizades... A constatação de mediocridades e aquela sensação de estar "semeando em terreno infértil"... Quando uma sementinha - entre tantas outras desperdiçadas - brota, o restante perde automaticamente a importância.

A essas amizades que dão cor à nossa vida, dedico hoje e sempre o poema do Vinicius, que foi escrito em 1976 mas que continua atual (como todo bom texto):



Soneto do amigo

(Vinicius de Moraes)



Enfim, depois de tanto erro passado

Tantas retaliações, tanto perigo

Eis que ressurge noutro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.



É bom sentá-lo novamente ao lado

Com olhos que contêm o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado

E como sempre singular comigo.



Um bicho igual a mim, simples e humano

Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.



O amigo: um ser que a vida não explica

Que só se vai ao ver outro nascer

E o espelho de minha alma multiplica...

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