15/02/2008

Planeta Sustentável

Para quem ainda não conhece, não sabe o que está perdendo...
O movimento "Planeta Sustentável" é mais uma dessas iniciativas que enchem o coração da gente de esperança, pois nos fazem perceber que tem bastante gente boa que ainda pensa em coisas importantes nesse nosso Brasilzão tão contraditório.Foi da revista Claudia de fevereiro que retirei o texto que reproduzo abaixo - e que é mais um texto que eu queria que fosse lido - e sentido - por todo mundo... Mas no site do movimento há muitos outros artigos preciosos que merecem uma visitinha, no mínimo, semanal.
Não concordo com os "radicalismos ecológicos", que acabam por transformar ativistas em "eco-chatos" perante a opinião pública. No entanto, acho que a idéia central do texto abaixo, do movimento Planeta Sustentável em si e de toda nossa reflexão diária, é a idéia de que SIM, é possível - e muito desejável - mudar algumas de nossas atitudes diárias com vistas a mudar o mundo que queremos deixar para nossos filhos para um mundo bem melhor.
É como já recomendou um dia o grande John Lennon: "pense globalmente e aja localmente". Há gente no mundo, como ele, que enxerga bem adiante de sua época... Afinal, quando Lennon proferiu essa famosa frase, alguém poderia supor que estaríamos hoje com muitos holofotes voltados à sustentabilidade, ao aquecimento global, às mudanças climáticas e à necessidade premente de mudar nossas atitudes?
Os visionários...
Mas esse já é outro assunto!

Boa leitura!


Não posso mudar para Estocolmo
(mas dá pra parar de tomar café no copo de plástico)

Este é o Ano Internacional do Planeta Terra. E é por isso que vou dividir com você alguns desejos e sugestões concretas para este tempo que se inicia. Já sei, já sei que não adianta chorar se eu não fizer a minha parte...


Por Paula Taitelbaum*
Revista Claudia - 02/2008



Quando eu era pequena, ozônio era nome de personagem de ficção científica, a gente usava óleo bronzeador no lugar de filtro solar, apagar as luzes era para preservar o dinheiro e não o planeta e, se o chuveiro ficasse pingando, o único problema era aquele barulhinho chato. Claro, já tinha muito hippie abraçando árvore, buscando ar puro e deixando de comer carne. Mas sustentabilidade era uma palavra que não fazia parte do nosso vocabulário. E, que eu saiba, nenhuma menina de 6 anos sonhava em ser cientista ecológica, a profissão que minha filha, bem decidida que é, já comunicou como sendo a sua escolhida.

Se ela vai ou não mudar de idéia, só o tempo dirá. O que sei é que, independentemente disso, todas as crianças que têm acesso à escola e à informação aprendem desde cedo a fechar as torneiras e abrir a boca para reclamar de quem joga lixo no chão. Há uma consciência precoce que percorre a novíssima geração; tenho a sensação de que eles sabem mais do que a gente. Mesmo assim, acho que ainda há o que dizer aos nossos miniecologistas: "Filha, olha só, se eu fosse você iria morar em Estocolmo, a capital da Suécia. De preferência, naquele bairro cem por cento ecológico, onde os telhados são cobertos de grama para absorver a chuva que depois é armazenada no subsolo dos prédios. Lá, onde há painéis imensos que absorvem a luz do sol e a transformam em energia elétrica. E também tubos que captam o ar e o mandam para a casa inteira, dispensando de vez o ar-condicionado. E sabe o que os moradores desse lugar fazem com o lixo? O seco vai para a central de reciclagem através de túneis subterrâneos. E o orgânico vira gás de cozinha.

Sim, minha filha, eu sei que não adianta nada eu ficar falando tudo isso se às vezes eu tenho preguiça e pressa e acabo jogando um potinho de iogurte no meio das cascas de fruta. Mas a mãe tá errada, viu? Juro que vou ser uma boa menina e me comportar melhor a partir de amanhã. Tá, tá, eu também prometo ser mais cuidadosa e não deixar a torneira aberta enquanto estiver escovando os dentes. Eu sei, eu sei que não adianta chorar quando vejo uma imensa área de terra desmatada se não fizer a minha parte.

Eu tenho plena consciência de que poderia ser uma cidadã melhor do que sou. E também sei que minha filha dificilmente seguirá meu conselho. Duvido que ela more em Estocolmo. Até porque a cidade-modelo não está aberta para todo e qualquer cidadão terceiro-mundista se instalar por lá. Mas pelo menos dá para a gente aprender com os suecos. Em Estocolmo, existem os carros comunitários. Uma idéia que surgiu para que menos automóveis circulem pelas ruas e, conseqüentemente, menos poluição vá para o ar. É mais ou menos como as bicicletas de Paris. Se você precisa ir a algum lugar, pega o carro comunitário que está estacionado, dirige tranqüilamente por esquinas impecáveis de tão limpas, não paga nada (nem gasolina) e depois deixa em qualquer lugar para que outra pessoa use. Obviamente, não daria certo por aqui.

Aliás, aqui no Brasil nem as áreas de preservação ambiental parecem dar certo. Eu conheço APAS (áreas de proteção ambiental) no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina, Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na Bahia. E em praticamente todas vi feridas nos morros e cicatrizes nos campos, mostrando que o dinheiro compra tudo, até o que deveria estar protegido a sete chaves. Da serra ao mar, a gente percebe que o concreto cresce com força sobre solos que são sagrados. Prova de que o ser humano pode ser muito mais irracional do que qualquer um dos nossos animais.

Mas vamos ser otimistas. Afinal, 2008 é o Ano Internacional do Planeta Terra. E é por isso que vou dividir com você - e com a minha filha - alguns desejos sustentáveis para este ano que se inicia.

SACOLA E SORRISO
Desejo que todos usem menos sacolas plásticas de supermercado. Não precisa ser uma autêntica e fashion Eco Bag, idéia que virou mania no mundo inteiro. Pode ser aquela boa e velha sacola de feira, feita de palha, de lona ou de qualquer material reciclado. A lojinha de artesanato do seu bairro com certeza oferece algumas opções cheias de estilo. Sem contar que só assim o mundo aposenta de vez aqueles "puxa-sacos" feiosos, que ficam só atrapalhando a decoração da cozinha.

Mas tem uma coisa: não adianta ficar em dia com a tendência sustentável do mundo se não ajudarmos a melhorar também o clima entre as pessoas. Eu sugiro o seguinte: quando estiver colocando as compras dentro da sua bolsa ecologicamente correta, aproveite para sorrir para a moça do caixa e dizer algo como: "Tenha um bom dia".

Desejo também que possamos andar mais a pé ou de bicicleta. Assim, além de evitar a emissão de gases poluentes, a gente também evita virar uma pessoa sedentária ou do tipo que não consegue olhar direito para o tom e a textura das árvores que ainda resistem de pé. Aliás, desejo que você abrace mais árvores. E não só árvores, mas mais pessoas. Crianças, adultos e idosos. E que não faça distinção de cor, credo ou classe. Quantas vezes você já abraçou a sua empregada? Aquela pessoa que cuida dos seus filhos e da sua casa inteira. Um abraço inesperado pode até fazer água brotar, nem que seja dos olhos.

E, por falar em água, desejo que, além de fechar bem as torneiras, todos nós possamos abrir os olhos ao mergulhar nos mares e pisar nas cachoeiras. E que as praias sejam mais limpas. E que a gente não tenha micose. E que ninguém fique calado quando se deparar com um daqueles condomínios que, para serem erguidos, colocaram abaixo uma vida que levou centenas de anos para crescer. Desejo mais uma coisa: que as pessoas deixem de se associar a clubes que, para construir uma piscina, aterraram parte de um rio.

LOUÇA E LEVEZA
Desejo também que todos nós possamos viajar para Estocolmo. Mas, se for impossível ir para lá, que seja para algum lugar que nos ensine a valorizar a natureza e a história. E que, ao viajar, a gente carregue malas mais leves. Porque, fiquei sabendo há pouco, quando carregamos menos bagagem, poupamos não só a nossa coluna como o meio ambiente. Eu sei que isso é tarefa bem difícil para nós, mulheres, mas, quando o avião está mais leve, ele consome menos combustível e diminui a quantidade de gás carbônico emitida no ar.

Aproveitando o embalo turístico, desejo que, para a preservação da nossa saúde mental, não fiquemos tanto tempo em aeroportos. Quando não estivermos viajando, desejo que a gente não use tantos copinhos de plástico na hora do cafezinho. Que a xícara de louça seja palavra de ordem no escritório. E, se tiver como, que o café usado seja orgânico. Como orgânica pode ser até a roupa que a gente veste agora. Chega de alimentos com excesso de química. Que a gente seja mais natural em 2008. Inclusive nas nossas relações pessoais.

Para um novo ano, desejo um novo mundo. Um mundo de gente que não destrua sambaquis
nem arranque samambaias. Um mundo onde a gente possa transcender mais e não precise fugir para uma estação orbital. Um mundo onde todossejam um pouco mais "cientistas ecológicos". Um mundo que tenha a chance de crescer junto com os sonhos da minha filha.


*Paula Taitelbaum, autora deste artigo, é escritora, tem 38 anos, e é mãe de clara, 6 anos, futura cientista ecológica.

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