12/04/2010

Responsabilidade dos formadores de opinião

Acho que um formador de opinião deve estar sempre alerta com o que transmite às pessoas.
No sábado à tarde fiquei chocada ouvindo um programa de rádio local. Trata-se de um programa direcionado a vestibulandos, que tem por objetivo dar dicas de estudo e de preparação para os exames.
Pasmem! Um dos apresentadores começou a relatar em detalhes que havia tomado, na semana anterior, a vacina contra a gripe H1N1 e que estava sofrendo até aquele momento com os efeitos colaterais "terríveis". Citou por mais de uma vez, cerceado pelos comentários igualmente chocados e exaltados dos colegas apresentadores, que nem havia conseguido dormir à noite, de tanta dor que sentiu no braço.
Vejam bem, não estou aqui questionando se o rapaz dizia a verdade ou não. Ou que ele não tenha direito de sentir a tal dor. Aliás, é bem provável que estivesse sendo verdadeiro em seu relato, visto que minha irmã mais nova também se queixou da dor da vacina, quando a tomou. Por outro lado, minha irmã mais velha, que também tomou a vacina, não teve a mesma reação. Sentiu a vacina dolorida, sim, mas horas depois já não sentia mais nada.
O que eu estou observando é o tamanho do desserviço à sociedade que o rapaz prestou ao relatar com tal riqueza de detalhes o "sofrimento" que teve ao tomar a vacina. Num país como o nosso, onde nem sempre a informação isenta chega a todos, deveríamos aproveitar cada minúsculo espaço disponível para esclarecer as pessoas, para orientá-las, para melhorar a vida delas. Nós definitivamente não deveríamos estimular - mesmo que indiretamente - as pessoas a não tomarem uma vacina tão importante como essa, simplesmente porque "dói". Quantos jovens um pouquinho mais "medrosos" talvez deixem de tomar a vacina simplesmente para não correrem o risco de ter uma dor insuportável no braço?? E para quantos outros amigos esses jovens farão a propaganda negativa da imunização??
Se isso realmente ocorrer, terá sido responsabilidade desse "desabafo" fora de hora do nosso caro radialista. Ele deveria ter feito esse desabafo com os colegas dele, com a família dele, nunca com os jovens ouvintes que estão acompanham o programa de rádio para pegarem dicas com professores notórios da cidade - para muitos desses jovens, a palavra desses professores é quase "lei".
Um formador de opinião deve ficar atento 100% do tempo com relação ao que passará aos seus leitores, espectadores, ouvintes. Ele deve, sim, fazer aquele exercício de linguagem: antes de formular um estatuto, devem se colocar na posição do receptor e pensar "como meu interlocutor entenderá isso que irei dizer"? Sim, gente. Isso não é bobagem, não. Quando você está na posição de formador de opinião, você é muito responsável pelo que vai dizer e - sutileza do detalhe - pelo que as pessoas que irão te ouvir depreenderão do que você disser!
Esse exemplo que citei é só um. Já reparei essa "falta de cuidado" em vários meios de comunicação, e isso é profundamente lamentável. Gostaria de poder ter uma voz influente, para fazer chegar a todos eles essa preocupação, esse apelo pela reflexão do que se diz, escreve, transmite.
E às pessoas que estiverem com medo de ir tomar a vacina contra a gripe H1Ni, digo, com franqueza: minha sincera opinião é que mais vale eventualmente ter uma dorzinha no braço do que estar sujeito a passar o inverno inteiro sentindo pânico cada vez que uma pessoa espirrar perto de você. Gripe H1N1 pode matar. Dor no braço, não.

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