10/12/2010

10 de dezembro

Hoje quando estava pronta para sair para o trabalho, parei sozinha na porta da sala de casa. Dei uma boa olhada em tudo: móveis, cortinas, estante. Tudo no lugar. Tudo arrumadinho.
Há exatos 8 anos, em 2002, tudo havia sido destruído pelo incêndio. Experiência terrível, única, marcante. Uma dor profunda por constatar o acontecimento inimaginável. A impotência diante da destruição.
Ao mesmo tempo, o estranho sentimento de alívio diante da tragédia, por saber que tudo poderia ter sido bem pior: não fosse a ausência de grades nas nossas janelas dos quartos e certamente mais de um de nós teria morrido. Não pelas chamas, mas pela fumaça negra e tóxica que se formou na queima da coleção de discos de vinil do meu pai, e que corroeu todos os objetos de metal da casa inteira - até nos cômodos mais longe de onde se deram as chamas.
Fui para o trabalho pensando que nessa vida, afinal, tudo passa. As marcas ficam, a dor passa.
Sofremos naquele 10 de dezembro de 2002, mas ao mesmo tempo a família ficou mais unida. Colhemos a solidariedade dos verdadeiros amigos e passamos a dar ainda mais valor a algumas coisas muito simples mas que por muitas vezes passam desapercebidas na correria da vida diária.
Sobrevivemos.

Hoje quando estava correndo pra casa na hora do almoço, atrasada e preocupada pela necessidade de voltar logo, já que tínhamos um evento importante dos 40 anos da UFSCar para realizar à tarde, lembrei-me de onde eu estava há exatamente 2 anos.
10 de dezembro de 2008. Um almoço no restaurante Almanach em que o Wanderley me comunicou sua decisão unilateral de romper o nosso relacionamento. Experiência dolorida, humilhante. Uma dor profunda por constatar o acontecimento inexplicável, já que 3 dias antes estávamos juntos comprando objetos para o nosso apartamento, fazendo planos...
Sofri muito, chorei lágrimas que eu nem sabia que cabiam dentro de mim.
Colhi novamente a solidariedade dos verdadeiros amigos.
Repensei muita coisa de minha vida.
E novamente me lembrei de dar valor a coisas muito simples que passam desapercebidas e que são abundantes na minha vida.
Olhei pra mim: estou forte, feliz, realizada. Tenho uma família unida e com valores realmente bons. Tenho amigos que me amam e que desejam o meu bem estar. Tenho em mim uma capacidade de buscar tudo o que quero. Estou muito bem, obrigada.

À noite, na happy hour com os amigos do trabalho, brindamos a essa felicidade e relembrando esses dois fatos tristes da minha vida confesso que chorei um pouquinho. As lágrimas foram pelo incêndio, e nenhuma delas pelo rompimento. Alegrei-me com isso.

Ao escrever este post lembrei-me que por diversas vezes durante meu mais de um ano de sofrimento pós-rompimento, sonhei com o dia em que seria capaz de dedicar, sinceramente, "Olhos nos Olhos", do Chico Buarque a essa pessoa que me fez tão feliz e depois me fez tão infeliz. Chegou esse dia: a tal pessoa hoje não me faz bem, não me faz mal. Ela simplesmente... passou! A ela dedico integralmente a canção do Chico.

Olhos nos olhos
(Chico Buarque/1976)
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz e passar bem
Quis morrer de ciúme, quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume, obedeci

Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos, quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais

E que venho até remoçando
Me pego cantando
Sem mais nem porquê
E tantas águas rolaram
Quantos homens me amaram
Bem mais e melhor que você

Quando talvez precisar de mim
'Cê sabe que a casa é sempre sua, venha sim
Olhos nos olhos, quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz

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