19/07/2009

a mulher e a feminilidade

"(...)Não sei se sabem, mas a mulher tem vários inimigos pessoais. Um deles, e dos mais cruéis, são os grandes costureiros. É claro que os pequenos também. Mas dou um destaque especial aos costureiros célebres, que inventam modas, que milhões de mulheres seguem, em todos os idiomas, com uma docilidade alvar. A única coisa que os move, e os inspira, é a intenção evidente e obsessiva de extinguir toda e qualquer feminilidade.
Imagino o escândalo do leitor: - "Mas por quê, ora pinóia?" ("pinóia é a gíria finada que acabo de exumar). Aí está um mistério nada misterioso. O autor dos vestidos vê a mulher como a rival que o há de perseguir, do Paraíso ao Juízo Final. E, por isso, o empenho com que trata de transformar a mulher numa figura cômica.
Como são desinteressantes as mulheres que se vestem bem. E o pior é que os costureiros, com diabólico engenho, atingem em cheio os seus objetivos. Realmente, nunca a mulher foi menos amada. Outro dia, remexendo nos meus velhos papéis, descobri uma crônica de dois anos atrás, em que eu próprio escrevia: - "Nunca a mulher foi tão pouco mulher, nunca o homem foi tão pouco homem". O raciocínio é simples: - se a mulher é menos mulher, o homem será menos homem.
Há sim, de um sexo para o outro, um tédio recíproco, que já não permite nenhum disfarce. Eu disse, certa vez, que a lua-de-mel começa depois da lua-de-mel. Hoje, diria que a lua-de-mel acaba antes da lua-de-mel. Por outras palavras: - não há mais lua-de-mel.(...)"
(Nelson Rodriges, em "Inimiga Pessoal da Mulher", 17/04/1971, compilada no livro "O Reacionário")

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