30/09/2009

Honduras e mídia golpista Ops! Quero dizer... mídia brasileira

O golpe em Honduras e como nossa mídia enrola o povo

É impressionante ver como a mídia hegemônica nacional distorce os fatos sobre a realidade hondurenha. É uma verdadeira inversão de valores. Um golpista, como Micheletti, ganha grandes manchetes nos principais meios de comunicação de massa. Já o encaminhamento dado ao problema por Lula (e elogiado por Obama, OEA e ONU) não só não merece o mesmo destaque, como é ironizado por essa mesma mídia.
A mudança de posição dos EUA na reunião da OEA nesta 2ª. feira pode significar que os norte-americanos realmente estiveram por trás da expulsão de Zelaya do país. Afinal, é duro para o Tio Sam ter de suportar mais um governo de esquerda na América Latina.
Mais impressionante ainda é constatar a má-fé da mídia brasileira: faz de conta que desconhece que Zelaya, ao tentar realizar uma consulta popular sobre um novo mandato presidencial, não descumpriu a Constituição hondurenha. A mídia, contudo, não se cansa de afirmar o contrário, secundada pela oposição de direita no Congresso Nacional: PSDB e DEM.
Mauro Santayanna – jornalista que por sua dignidade, honra e prestígio dispensa comentários – fez importante análise dos acontecimentos em Honduras em artigo publicado pelo Jornal do Brasil semana passada. Como ele afirma, “Qualquer que venha a ser o desfecho da crise, o Brasil não pode desculpar o insulto à sua soberania”. Disse ainda que a intenção de Zelaya não era, absolutamente, “disputar um segundo mandato” no referendum popular convocado para junho passado.
Como diz Santayanna, Zelaya queria (e sem efeito vinculante) que o povo dissesse se concordava, ou não, que nas eleições de novembro próximo uma quarta urna fosse colocada nas seções eleitorais. Nessa urna especial, os eleitores aceitariam, ou não, a convocação de Assembleia Nacional Constituinte para redigir nova Carta Política”.
E acrescenta: “A consulta direta ao povo, por iniciativa do presidente da República, é prevista pela atual Constituição de Honduras, em seu artigo 5º. Embora provavelmente nova Assembleia Constituinte pudesse tratar também do problema dos mandatos, a consulta de novembro não faria referência expressa a isso, nem Zelaya seria beneficiado: ela coincidiria com a eleição de seu sucessor, dentro das regras atuais do jogo”. Mais claro impossível!
Em síntese, quem está descumprindo a Constituição hondurenha, óbvio, são os golpistas. A grande questão é que Zelaya e seu grupo migraram de uma posição ideologicamente conservadora para outra de centro-esquerda e de defesa dos interesses nacionais. Por isso, passou a sofrer oposição da oligarquia hondurenha – que o tinha elegido e que se considerava traída. Daí o golpe de Estado. Em seu artigo 3º, como chama a atenção Santayanna, a Constituição do país explicita a condenação a este tipo de golpe. Senão, vejamos.
“Ninguém deve obediência a um governo usurpador nem a quem assumam funções ou empregos públicos pela força das armas ou usando meios e procedimentos que contrariem ou desconheçam o que a Constituição e as leis estabelecem. Os atos verificados por tais autoridades são nulos. O povo tem direito a recorrer à insurreição em defesa da ordem constitucional”.
Quem violou a Constituição, portanto, foi o Sr. Micheletti e as forças civis e militares que o acompanharam. A mídia hegemônica e golpista brasileira, escondendo isso, confunde a opinião pública brasileira. Por quê? Simples: para desgastar o presidente Lula. Afinal, 2010 está aí!


Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-prefeito de São Carlos.
E-mail: emersonpleal@gmail.com
SET/2009.

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