25/08/2009

Mídia e Democracia

As contradições do Congresso Nacional
Os professores da PUC do Rio Grande do Sul – Pedrinho Guareschi e Osvaldo Biz –
lembram, em seu livro Mídia & Democracia, que “A mídia no Brasil não é o quarto poder. É o primeiro, o que controla e subjuga os demais (...). A mídia, principalmente a eletrônica, constrói a realidade, impõe os valores, monta a pauta de discussão nacional e subjetiva as pessoas”.
O fato de a mídia impressa ser algo que se rege pelos princípios de uma empresa privada, não a isenta de responsabilidade social. Já a mídia eletrônica – rádio e televisão – é um serviço público. Ou seja, é uma concessão temporária, “não pode ter ‘donos’ e tem como tarefa essencial ser educativa, formar para a cidadania, sendo uma nova ágora, onde devem ser discutidos os grandes problemas nacionais”.
Contudo, o que se observa no Brasil é que tanto a mídia impressa como a eletrônica fogem, como o diabo da cruz, de toda e qualquer discussão que tenha como pauta definir os parâmetros de um controle social sobre elas. Mais que isso, demonizam quem tiver a petulância de chamá-las à responsabilidade. Neste contexto, como avançar no aprofundamento de conceitos como a democracia e a cidadania? Difícil!
Para se ter uma idéia do papel nefasto da mídia hegemônica no País, é só analisarmos este triste episódio que escancarou os bastidores do Congresso Nacional. Mas, para entendê-lo há que o fazer com critérios políticos – não moralistas, como insiste aquela mídia justamente para moldar a opinião pública, esconder a realidade e construir a (‘realidade’) que lhe interessa, como diriam os autores de Mídia & Democracia.
Pois bem, todos sabemos que o nosso Parlamento sempre funcionou assim. É só lembrar
que, durante o governo FHC, seu grande aliado no Congresso Nacional não foi outro senão ACM – o popular Toninho Malvadeza. O corporativismo – ontem como hoje – sempre funcionou, objetivando manter privilégios. Mas, quando ‘reinava’ o Príncipe da Sorbonne que, comprovadamente comprou a sua reeleição, rasgando a Constituição, a mídia não demonstrou tanto zelo assim na defesa da ética e da moralidade, como faz hoje.
Por quê? Simples! Por que a questão em tela é política, e a mídia defende seus interesses. E seu interesse, hoje, é desalojar o PT do poder, é destruir a candidatura Dilma Roussef e trazer de volta os tucanos para continuar com a tarefa ‘hercúlea’ de desmontar o Estado brasileiro para ficar mais fácil entregá-lo aos interesses externos. Que o diga a CPI da Petrobrás, de responsabilidade de
tucanos e ‘democratas’: querem entregar o pré-sal para os EUA; e os factóides que, dia e noite, eles criam no Congresso Nacional com o único objetivo de desgastar o governo Lula. Mas a mídia jura que o que ela quer mesmo é ajudar a moralizar o Congresso Nacional.
O Estadão, por exemplo, que sempre foi o maior porta-voz das oligarquias no Brasil, ostenta manchetes que dizem que o arquivamento das denúncias contra Sarney custará caro ao Parlamento ‘que insiste em sustentar oligarquias em detrimento da opinião popular’. E esculhamba com o presidente Lula por ele se preocupar em “preservar o Sarney”. Ou seja, uma análise baseada puramente na lógica formal e em critérios moralistas justamente para construir a ‘realidade’que lhe interessa.
Se este jornalão quisesse realmente diagnosticar o problema, teria de mostrar para seus leitores como se trava a luta política dentro do Congresso Nacional; como funciona nossa democracia do poder econômico; quem e como é eleito um representante para o Parlamento; como se constrói a governabilidade (que é imposta por essa mesma democracia – frágil e incipiente).
Trocando em miúdos: a imprensa faz todo este escarcéu porque quer passar a presidência do Congresso para as mãos do tucano Marconi Perilo, que responde por inúmeros processos em Goiás por irregularidades em sua administração quando governador.
E a presidência do Congresso, passando para as mãos dos tucanos, o que vai acontecer
mesmo, como num passo de mágica, é que a mídia vai parar de falar em moralização do
Parlamento. É assim, a luta pelo poder. Que ninguém se iluda.
(Emerson Leal – Doutor em Física Atômica e Molecular e vice-prefeito de São Carlos)

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