21/01/2009

desdobramentos

Ih, acho que ainda vai dar MOITO pano pra manga...

A nota e os fatos
por Paulo Ferreira*

Algumas instituições, autoridades e pessoas ligadas à comunidade judaica no Brasil incluindo um grupo de 36 petistas reagiram indignadas à nota do PT sobre os acontecimentos na Faixa de Gaza.

Em síntese, a nota hipotecou solidariedade ao povo palestino, qualificou as ações de Israel como "terrorismo de Estado", fez um apelo à paz e afirmou que a retaliação contra populações civis lembrava os massacres praticados pelos exércitos nazistas no século 20.

Muitos acharam descabido e ultrajante comparar as ações israelenses ao Nazismo. Outros evocaram o "direito de defesa" de Israel e criticaram o fato de o PT não ter condenado também os ataques do Hamas. Os mais extremados viram na nota sinais contundentes de anti-semitismo e de apoio a grupos terroristas.

Entendendo que sempre há pessoas sensatas entre os provocadores, vamos ao embate político:

É evidente que Israel tem o direito de existir e se defender, assim como é evidente que o PT não apóia as ações extremistas do Hamas. Essas posições são públicas e antigas. Poderiam até constar da nota, mas não mudariam seu conteúdo político. E o problema está justamente no conteúdo político da nota, na afirmação inequívoca de que Israel comete "terrorismo de Estado" contra o povo palestino.

O estranho é que os críticos quase não fizeram reparos ao uso da expressão "terrorismo de Estado". Preocuparam-se com o fato de ela ter sido ecoada por um partido com o peso do PT. Mas, antes de desmentir, preferiram justificar: "Terrorismo se combate com terrorismo". Essa foi a tese central da maioria das mensagens de "repúdio" que chegaram ao partido, tanto as formais como as postadas no espaço de comentários do Portal do PT (www.pt.org.br), onde a nota foi divulgada.

Pergunto: É aceitável um Estado armado até os dentes, com o que há de mais moderno e destrutivo, massacrar 4 milhões de pessoas acuadas, cercadas, famintas, doentes, que não têm pra onde correr porque uma pequena parcela dessa população engajou-se num partido político considerado terrorista? Não, não é aceitável. Israel não está só se defendendo. Está exterminando um povo inteiro.

Entre a publicação da nota do PT e o dia em que escrevo este texto, as Forças Armadas de Israel bombardearam nada menos do que quatro prédios da ONU, com comida, remédio e gente dentro. Antes e durante, destruíram hospitais, escolas, mesquitas, bairros inteiros. Do início dos ataques ao anúncio do cessar-fogo unilateral passaram-se 22 dias, durante os quais morreram na Faixa de Gaza 1.200 palestinos (mais de 50 por dia), entre eles centenas de crianças e outras centenas de mulheres. Reações a este odioso massacre estão ocorrendo no mundo inteiro, e a do PT nem é das mais radicais.

O que isolou Israel no cenário mundial não foi um suposto infantilismo de esquerda, do tipo "ficar sempre do lado do mais fraco", como acusaram alguns críticos da nota petista. O isolamento foi provocado pela evidente desumanidade do cerco e dos ataques. O "cessar-fogo unilateral" é a maior evidência disso. Muita gente respeitável no "mundo ocidental" compreendera, e aceitara, o comportamento belicista de Israel às vésperas das eleições nacionais, com o candidato do governo perdendo nas pesquisas para um forte adversário de extrema-direita. Daí a ser avalista do assassinato cotidiano e massivo de inocentes, mostrado nos noticiários, vai uma distância muito grande. E Israel foi obrigado a recuar.

No que depender do PT e do governo Lula, estaremos sempre atuando na defesa da Justiça e da Paz - não existe uma sem outra. Somos a favor do Estado de Israel, tanto quanto somos a favor do Estado da Palestina.

Quanto ao Hamas, é um partido institucional que ganhou as eleições na Palestina e foi ostensivamente atacado, nos fronts político, econômico e militar, por Israel e seu amigo de todas as horas, os Estados Unidos da América. Manter a região em permanente conflito atende aos interesses de muita gente...

O PT condena os ataques do Hamas a civis israelenses. Mas o PT, por suas convicções democráticas e socialistas, tem a obrigação de condenar, primeiro, os principais responsáveis pela vitória da Guerra sobre a Paz.

*Paulo Ferreira é secretário nacional de Finanças e Planejamento do PT

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